Sei Não

Expressão que denuncia ignorância, desconhecer o assunto. Ou simplesmente uma forma de dizer: “não sei”.

E o não saber não quer dizer que se desconhece o tema. Mas a resposta a ser dada não foi dada por vontade de não querer. E sim por se esquivar de dizer, àquela pessoinha, cuja companhia não lhe apraz. Que o melhor é ir embora. Em boa hora se vai. Sem ser preciso um adeus.

“Sei não” era um nome dado de presente aquele rapaz. Cujo comportamento destoava de todos na comunidade. Por ser avesso a relacionamentos. Se esquivando de apertos de mãos. De abraços que lhes eram dados em endereços equivocados.  Já que ele, o Sei Não, por não querer conviver, se mantinha a margem daquela sociedade. Formada de pessoas boas. Mãos caludas e teses tostadas pelo sol. Que viviam e conviviam na mais perfeita harmonia naquele lugar ermo e isolado. Distante da cidade.  Aonde quem chegasse decerto voltaria atrás. Pelo mesmo caminho por onde vieram.

“Sei não” acostumou-se a dizer não. Por falta de empatia corria às léguas de lonjura de quem o procurasse. Esquivava-se de abraços e apertos de mãos. Era um esvazia companhia. Onde ele se assentava o outro lado do banco. Mesmo que sobrasse espaço. Não era preenchido.

Era mais um a ser evitado. Contrariando o dito maldito: “antes só que mal acompanhado”. Melhor se isolar a permanecer juntinho ao dito cujo.

“Não Sei” permaneceu assim até chegar a maior idade. Jovem ainda se isolava na comunidade.

“Não careço de ninguém pra me acompanhar.” Dizia ele fechando a cara feia. Nem se olhava no espelho. Se olhava fazia caretas.

Um dia, no mais tardar perdida a mocidade. Chegando a maioridade. Vendo a velhice olhar em sua direção. Não sei, por não saber ou desconhecer quem era. Deveras, meio caduco. Amalucado confuso. Ao precisar de ajuda de segundos. Andando na rua sem saber aonde ir. Deu de cara com um velho conhecido. O mesmo ao qual sempre dizia: “sei não.”

No presente momento de verdade não sabia. Desconhecia até mesmo quem seria ele. O nome verdadeiro dele era Sebastião Nascimento. Filho de dona Filó e do Seu Raimundo.

Naquela hora perdida na rua, sem saber onde estava. Sei Não, sem sequer saber do seu paradeiro. Deparou-se com ele mesmo sem carteira de identidade. Que foi perdida onde? Não sei não sabia adonde.

Acabou Não Sei não sabendo a quem recorrer. Aquela pessoa que encontrou em seu caminho era a única que poderia lhe ajudar.

Sei Não parou meio atordoado. Confuso, perdendo o fuso horário, olhou nos olhos daquele velho conhecido. Sobre o qual desconhecia quem de fato seria. E a ele perguntou: “onde estou? Quem sou eu? Pra onde vou?”

O inquirido, olhou pra ele, sem saber quem era, e deu uma resposta meio vaga: “sei não. Procure no cartório de nascimentos quem é você. Talvez eles saibam. Já eu não sei.”

Não precisa dizer que o Não Sei continuou do mesmo jeitinho. Sem saber nada sobre ele mesmo.  Já que sua verdadeira identidade nem eu mesmo sei.

 

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