O dia quando perdemos a esperança pra mim talvez seja o derradeiro dia da minha vida.
Da mesma maneira quando se deixa de sonhar tudo acaba.
Sonhos são aparentados a esperança. Primos irmãos, no meu entender.
A gente vive a espera da esperança. Em menino ainda esperando ganhar. No meu aniversário que cai em sete de dezembro. Aquela linda bicicletinha de rodinhas amarelas. A qual vi exposta numa vitrine de uma loja especializada. Cujo preço não era tão carinho. E com que alegria a tive em minhas mãos no dia seguinte ao meu cumpleanos. Pena que, por não saber andar, ainda levei um belo tombo. Que fez com que um galo cantasse em minha testa ancha. Que logo desinchou depois de um afago carinhoso de minha mãezinha. E de uma bolsa de gelo que naquele lugar foi deixado por horas a fio.
A esperança nunca morreu dentro de mim. Espero sempre. Embora a espera de vez em sempre me enfara. Já tive mais pressa. Agora a paciência tomou lugar da sua prima impaciência.
Espero sempre dias melhores. Apesar de nem sempre esses dias chegarem.
Espero um dia, antes que me levem ao campo santo, ver meu sonho de ter meus livros considerados Best Sellers. E serem disputados nas livrarias como iguarias de fino sabor.
Já aquela esperança. De nome em maiúsculo por ser nome de pessoa. Nem bem pessoa era a minha personagem. Já que em verdade era uma bela vaca.
Cuja produção leiteira ia às alturas de um cometa errante.
A Esperança vaca já foi uma linda bezerrinha. Nascida de mãe leiteira. Que enchia dois baldes quando recém parida.
Elazinha mugia de saudade de sua mãe quando a apartavam depois da ordenha.
Esperancinha era o xodó de seu dono. Que cresceu cercada de todos os mimos.
Em novilha ainda a deixaram pra cruzar com um touro de bom pedigree. Era seu primeiro cio.
Tão logo foi fecundada Esperança prenha foi tratada como uma mãe de primeira cria. Foram onze meses de espera da linda Esperança parir.
Recebia tratamento de rainha. Vivia num curral isolado. Tratada com ração requintada. E na primeira ordenha não fez feio. Já que bonita era a Esperança; na primeira tirada de leite, com espuma. Foram medidos mais de quarenta litros de leite branquinho.
Na segunda cria ela produziu a soma graúda de quase sessenta litros frios.
Esperança vaca era a dona do curral. Nem se equiparava as suas irmãs leiteiras.
Dai seu tratamento vip. Era vitoriosa em todos os torneios leiteiros da região. Só de prêmios em dinheiro já se somava quase cem mil.
Tudo eram flores coloridas até aquele dia funesto.
Esperança vaca ruminante desapareceu sem motivo aparente.
“Onde estaria ela”? Perguntavam todos os consultantes.
Reviraram céus e terras e nada de encontrar a Esperança vaca melhor do plantel.
Um mês se foi. Dois, três, deixaram todos embasbacados sobre o paradeiro da Esperança vaca.
Até que um dia um bando de urubus sobrevoavam o pedaço. Seria um indicio seguro de onde estaria a Esperança morta?
Fato inconteste. Lá em baixo, num brejinho morto pelas taboas. Jazia a ossada branquinha de uma vaca mortinha.
Nem foi preciso fazer o DNA. Era mesmo a pobre Esperança morta. A causa mortis até hoje não se sabe. Seria picada de cobra peçonhenta. Ou elazinha simplesmente morreu de amor por algum touro desconhecido?
Suas exéquias foram celebradas nessa semana santa. Uma missa sem corpo presente foi celebrada em sua homenagem.
Anotem esse dia- 15 de abril, terça feira santa. O dia em que morreu a Esperança.
Pra mim em dias melhores também morreu. Já que quem espera demais cansa.