“Mãe? É pecado”?

Estamos em plena semana santa.

No mundo cristão nessa semana celebra-se a paixão, morte e a ressurreição de Jesus Cristo. Tendo começo no domingo de ramos, que relembra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém.

A quaresma é um período de 40 dias de penitência, orações e reflexões que antecedem a páscoa.  Quando a gente se abstém de comer carne. Sendo por muitos considerado pecado esse ato falho.

Dai a minha reserva o que seja pecar.

Pecado- desobediência a qualquer norma o preceito. Falta ou erro. Ou também, no meu entendimento, uma violação a um preceito religioso. Transgredir enseja algo parecido.

Existem pecados maiores ou de menor grau. Pecadinhos ou pecadões.

Isso de não comer carne nessa semana que tem começo pra mim é um costume que remonta aos velhos tempos.

Também, com o preço elevado dessa iguaria, quem pode pagar que coma. Mas, como a carne anda em alta, mister se faz economizar.  Que tal substituí-la por peixes? Tá nervoso, desgostoso com a vida? Vai pescar.

Nada como um bom churrasco. Bem acompanhado por uma cerveja geladinha. Mas, nessa semana que se inicia, adeus carne assada na brasa.

Sofia, menininha esperta, bem comportada na escola, em casa não fugia a rotina. Inquiridora das coisas que no entorno giravam. A tudo que não entendia procurava saber a resposta.

Na escola era a primeira a levantar a mãozinha sempre de olhinhos abertos na matéria que era ensinada.

“Professora. A senhora falou que devemos fazer jejum nessa semana. Não comer carne seria uma das recomendações? Ir à igreja, acompanhar procissões. Seria também de bom alvitre? Lá em casa não comemos carne desde que meu paizinho ficou desempregado. Estamos passando por necessidades. Falta de tudo pra gente.  Nem ovo estamos podendo comer mais. Agora nem sei se é pecado ou não. Pecado pra mim é não ter emprego decente. Não ter trabalho que sustente a gente. Passar fome sim é um pecado cabeludo. Dos grandes.”

A professora de repente emudeceu. Não teve resposta a dar a menina na hora. Calou-se e encerrou a aula.

Sofia, espertinha, foi pra casa. Era início da semana santa. Já sabia, elazinha, que aquela seria uma semana igualzinha as outras. Com a despensa vazia. Com o estômago roncando de fome. Passando necessidades na sua vidinha modesta e de escassos recursos.

A palavra pecado buzinava em seus ouvidos. Mal sabia ela qual seria exatamente o significado exato dessa palavra.

Pecado pra ela mostrava sentidos dispares.

Uma vez elazinha pecou por chegar atrasada na escola. Mas, a sua desculpa foi por não ter nada pra levar na merendeira. Em casa faltava de tudo. A geladeira estava vazia. A conta de luz foi cortada por falta de pagamento.

De outra vez pecou por não ter dinheiro para pagar a lotação. Por ter ido a pé chegou alguns minutinhos atrasada e não pôde entrar pelo portão.

O único pecado da pobre Sofia, segundo ela entendia. Não muito bem. Era ser bem pobrinha. Se isso é pecado não seria por sua opção. A gente não pode escolher a família onde a gente nasce. Só Deus pode.

Naquele fim de tarde, Sofia chegou a casa, faminta, foi à cozinha, abriu a geladeira. E dentro dela nada encontrou.

Era segunda feira santa. Começo de semana. Igualzinha as outras.

Pela televisão se podia assistir uma missa pertinente às celebrações da semana sana.

Quando o padre pregava abstinência de carnes e jejum.

Antes que a pregação tivesse fim Sofia acabou por perguntar  a sua mãezinha.

“Mãe? É pecado comer carne nessa semana? A  gente não come há tanto tempo.  Eu já nem sei qual o gosto de carne”.

Confesso que eu também não sei.

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