Entra ano, sai outro

Aquele 31 de dezembro. Como os outros dias. Não foi nada auspicioso para o Zé da Tiana.

A tal dona o largou no meio do ano.

Não satisfeito em viver só o infeliz Zé amasiou-se com outra fulana.  Cujo nome era Ana. A partir de antão Zé passou a se chamar Zé da Ana.

Mas pouco durou essa relação. Ana, linda balzaquiana, desejando mudar de profissão, já que até então era rameira, partiu e nem deixou endereço. Acabou se entregando a mais um. Até hoje não se sabe o número do tal. Dizem, nos arrabaldes, que ela já dormiu, sem deixar seu parceiro fechar os olhos, com um batalhão inteiro. Fora o general cinco estrelas. Que numa noite estrelada foi ao céu se juntar as suas amigas. Tornando-se uma estrelinha miudinha. Que leva o apelido de estrelinha Aninha. Em honra e glória da tal putinha de nome Ana. Mais uma estrela a alumiar o céu.

Zé, sem ser das mulheres que passaram em sua vida errática. A partir de então não mais quis se consorciar a mulher nenhuma. Decidiu viver na própria companhia. Já que as desventuras por que havia passado foram tantas e tamanhas que acabou por concluir: “antes só que mal acompanhado.” Sábia e sabida recomendação.

Esse ano em curso não tem sido nada apetitoso para o amigo Zé. “Infeliz no amor e feliz por não sentir dor.” Dizia ele exibindo aquele sorrisão 1001.

Felizmente, na profissão que escolheu como sua. Era fazer nada e acordar mais cedo para ficar mais tempo à-toa. Zé se tornou um esvazia banco. Trocando em miúdos: quando ele chegava à pracinha. Ainda bem cedinho. Todos os desocupados iam saindo, devagarzinho. Deixando banco vazio. Sabem qual o motivo? Zé era uma pessoa não grata. Caindo em desgraça por sua prosa ruim.

Na profissão de desocupado Zé não ia bem. Quando lhe diziam: “Zé, vai trabalhar vagabundo!” Ele respondia na ponta da língua grande: “pra quê? À-toa me dou melhor.”

E assim escorriam os dia. Alongavam-se os meses. Fechava o ano.

Zé não tomava jeito. Até no mais tardar dezembro.

Foi quando resolveu abrir um negocinho. Pensou nas opções que lhe apresentavam.

Neófito no assunto nada sabia fazer.

Quem sabe abrir uma padaria seria mais recomendável? Mas acordar cedo não era com ele.

Um açougue? Uma segunda opção. Por sugestão de uma amigo do à- toa quem sabe daria certo? Mas quem era o Zé? Se nunca soube a diferença de uma chã de dentro ou de fora. Patinho, pensava ele. Aquelas avezinhas que nadam na lagoa. Picanha ignorava o que seria. Carne de pescoço era com a qual estava acostumado.

Nada dava certo para o Zé sem sobrenome. Era um sujeito sem nada que o satisfizesse de verdade. Conferir suas nádegas ao assento. Passar os dias em brancas nuvens num céu acinzentado. Num dolce far niente. Que nem sabia o significado. Era justamente aquilo que sua incompetência indicava.

Mas quem diz que o Zé tinha parança? Tinha de se dar bem na vida. Não importava o que fosse.

Ao final de dezembro. Dia 31 se não me falha a memória. Encontrei o Zé numa praça vazia.

Ele estava desconsolado. Mãos no queixo a se queixar da vida.

Perguntei a ele o que estava sucedendo. E ele me respondeu: “sabe? Tudo que eu tento não da certo. Já tentei me aventurar numa padaria. Foi uma desventura só. Como açougueiro não dei certo. Quebrei o negócio logo no começo. Mês passado tentei ser bombeiro encanador. Ao colar um cano usei a cola errada. Não precisa dizer que entrei pelo cano. Entra ano se despede outro. É só desengano.”

“É Zé, mesmo assim lhe desejo um feliz ano novo”.

Agorinha mesmo não sei o que foi feito do Zé. Quem sabe ele entrou no ano novo em vida nova?

É o que desejo a vocês. Amigos ou simpatizantes.  Nesse ano novo que se inicia.

 

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