Sonhar faz parte da gente. Pesadelos nos atormentam.
Dizem que velho não sonha mais. Seus sonhos se foram no passar do tempo.
Antes sonhava colorido. Já hoje meus sonhos se acinzentaram.
Sonhar é bom. Desde que se tenham bons sonhos.
Antes sonhava com tanta coisa…
Agora alguns desses sonhos se transformaram em realidade. já outros se esfumaçaram se perdendo na bruma do tempo.
Muitos sonhos ficam apenas aqui dentro guardados. A espera de um dia vierem ao lume do dia. Já outros sonhos sonhados nada mais são que doces lembranças de um passado não redivivo.
Aquela linda garotinha, de nomezinho primeiro Larissa. Nasceu sonhando numa noite estrelada. O céu se mostrava de uma negritude colorida em apenas negro. Algumas estrelinhas brilhavam no firmamento. Uma delas piscava sua luzinha freneticamente. Não era uma estrela. E sim um pirilampo desgarrado da terra pensando um dia se tornar estrela.
Larissa, aos cinco aninhos, começou a poetar. Um dos seus primeiros versinhos foi esse: “quem me dera fosse uma estrelinha. Nunca iria deixar meu lugar. Brilharia uma luz tão fortezinha que não daria conta de cegar minhas estrelas irmãs. Apenas a elas juntaria meu brilho para a abóboda celeste encantar”.
Larissinha crescia não muito. Espichou alguns palminhos o suficiente para não fazer sombra a um diminuto pezinho de jabuticaba. E que frutinhas doces ele oferecia ao final do ano. Não era preciso subir no pé. Ao rés do chão se podia degustá-las umazinha a umazinha.
Larissa era uma menina encantadora. Admirada por todos que a conheciam. Aos doze anos deixou a família em prantos para ajudar numa casa de idosos. Voluntária cuidava dos velhinhos nas suas lidas diuturnas. Era ela quem cozia suas roupas. Dava banho nos idosos sem provocar constrangimento. Era pau pra toda obra. Deixou os estudos pra outra hora. Era em verdade uma santinha em carne humana.
Na quase maior idade fez voto de pobreza. Decidiu, por si mesma, dedicar-se de corpo e alma inteira a cuidar dos velhinhos até quando Deus a permitisse. Se possível durante muitos anos mais. E assim o fez.
A linda menina Larissa se fez adulta. Não se casou nem teve filhos. Seus filhos, dizia ela- são meus velhinhos.
Já aos cinquenta continuava na lida naquela casa de idosos. Não se queixava de quase nada. Se o dinheiro faltasse ela recorria a sua família. Que de longe não se esquecia da sua pequena Larissinha.
Desde pequenininha ela tinha o mesmo sonho. Durante as noites ela sonhava em ser estrela.
Não uma estrelinha que brilhasse no céu escuro. Nos dias claros ela brilharia também.
Essa estrela seria diferente das outras. Teria luz própria. Não carecia da luz do sol para se iluminar. Essa mesma estrela desceria do alto. Criaria pernas e braços fortes. E seria a cuidadora de velhinhos durante a vida interinha. Até quando Deus a levasse de volta a iluminar o céu junto as suas irmãzinhas que tanta saudade sentiam delazinha.
Larissa sonhava sempre em deixar seus velhinhos felizes e saudáveis. Até aquela noite estrelada quando foi convocada a servir aos anjos.
Larissinha enfim teve seu sonho feito verdade. Ao subir aos céus se tornou mais uma santa protetora de suas irmãs estrelas. Nessa manhã ensolarada não a posso ver. Mas tenho certeza que santa Larissa lá do alto nos observa. Com seus olhinhos claros a orar por nós.