Naquela lista está faltando eles

Éramos cento e sessenta jovens no começo da faculdade.

Começava o ano de um mil novecentos e sessenta e nove.

Havíamos vencido o concorrido vestibular. Muitos de nós vindos do interior. A maioria da capital.

Com o coração recheado de sonhos começávamos. Naquele janeiro risonho. A nossa meta maior que seria a medicina. Já havíamos decidido por aquela profissão. Desde anos antes. Quando mais jovens ainda.

Não se podia dizer que éramos amigos. Colegas sim nos considerávamos. Dada à azáfama daqueles anos. Ao estudar constante. Pouco tempo nos sobrava para confraternizações.

A principio a escola não era aquela da Avenida Alfredo Balena. Foram dois anos contínuos antes de entrar propriamente na faculdade. Ciências biológicas era o degrau primeiro antes de começar o curso. E só depois começamos a dissecar cadáveres naquela sala fria cheirando a formol.

Mais três longos anos se passaram. Imersos de corpo e alma nas matérias antes de nos graduarmos. Foram anos prazerosos, difíceis, mas vencidos.

Ainda me lembro da colação de grau. Foi num ginásio lotado da capital. Jovens esculápios, vestindo becas escuras, subiam ao palco para receber o diploma.  Bem me recordo do nosso convite de formatura. Era um papel envelhecido em forma de pergaminho. Com nossos nomes grafados em letras em estilo manuscrito como se usava nos velhos anos.

Cinco anos deixaram rastros. Grande parte de nós não se viu mais. Cada um seguiu seu caminho. Muitos se especializaram. Outros começaram logo a seguir a trilha tortuosa da medicina.

Eu vim pra o interior. Na minha Lavras amada continuo desde um mil novecentos e setenta e sete. Depois de concluir minha especialidade em terras de Espánha.

Nossa turma se dispersou. Quase não mais nos encontramos. Não por falta de desejo. Talvez pela distância.

Nesse ano em curso – dois mil e vinte e quatro. Foram-se cinquenta anos. Poderia dizer de saudade sim. Pouco me lembro de alguns colegas. Fora os dois que estão aqui.

Faz cinquenta anos aquela data festiva. Naquele ginásio lotado da capital. Éramos cento e sessenta jovens médicos a receber o canudo. Agora restam cento e trinta e cinco.

Naquela lista estão faltando eles.  Cujos pré nomes declino a seguir- Abrão, Aloísio, outro Aloísio, Arquimedes, Eliana, Emilio, dois Franciscos, Geraldo, Gláucio, Humberto, Kátia, Leonardus, Luis Marcos, Marcus José, Martha, Mirian, Orville, Paulo Roberto, Rui, Samuel, Sergio, outro Sergio, Wilde e Nelson Antonio.

Em dezembro próximo nos encontraremos. Pena que faltam alguns de nós.

Não podemos deixar pra muitos anos nosso próximo encontro. Não sei se no seguinte quantos de nós restarão.

Espero não constar meu nome na próxima lista.  Nem de nenhum de vocês meus queridos colegas.

 

 

 

 

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