Ah! Fossem só esses os meus problemas…

Problemas? Quem não os tem?

Desde uma unha encravada. A uma sogra que inferniza a vida da gente.

Passando por uma dor de barriga. Que talvez seja por excesso de comida que fez mal a nossa digestão. Ou a falta de dinheiro. Coisinha corriqueira que é parte intimamente ligada à vida de nós brasileiros.

Uns valorizam demais seus pepinos.  Já outros não estão nem aí para seus atropelos. E riem da própria desgraça e acham graça quando a grana anda em falta. Já que para eles lhes basta viver com tão pouco. Dormindo ao relento ao sabor do vento. Tendo por companhia apenas um cão sarnento. Único amigo que nunca o abandonou nas situações mais aflitivas. Quando você foi à bancarrota no ringue de box da vida. Deixado à deriva num mar revolto sem se revoltar com a penúria em que se encontra.

Cada um tem sua sina. Uns moram numa casa enorme com uma bela piscina. Cercado de luxo a esbanjar o que falta aos menos afortunados pela sorte madrasta.

Já outros se sentem felizes na pobreza extrema. Num lar bem estruturado. Mesmo que num casebre tosco dependurado no morro à mercê de ser soterrado pela enchente que um dia varre tudo ao derredor.

Cada um é feito a sua maneira. Já que a felicidade mora onde a singeleza se esconde. No sorriso de uma criança. Não no destempero verbal de discussões infrutíferas.

Problemas são para serem resolvidos. Não para que percamos o sono.

Se fossem apenas esses os meus problemas não perderia o resto dos meus cabelos. Usaria uma peruca para esconder minha calva luzidia.

Um velho conhecido já me deu provas disso. Seu nome é Benedito.

“Bendito o dia em que nasci”. Diz ele num sorrisão arreganhado.

“Naquele dia faltou luz. Minha mãe, se contorcendo nas dores do parto me expulsou à luz de lamparinas. Uma delas quase pôs fogo no colchão. Salvamo-nos por pura sorte. Uma alma boa chegou na hora certa. E impediu que morrêssemos ali mesmo. Não era nossa hora. Quando eu tinha dez anos quase fui vitima de uma doença naquela época sem cura. Mais uma vez salvei-me por intersecção de uma senhora que na hora em que iam me botar no caixão ela destampou a tampa e disse que eu ainda respirava. Felizmente estou vivo para contar minha história. Que só vai terminar quando eu deixar. Problemas nunca me apoquentaram. Ao revés, só fortaleceram a minha fé. Uma vez tive sarampo. Era ainda menino. Fiquei todo encalombado. Febril pensavam que pouco iria durar. Mais uma vez sobrevivi. De outra feita caí de uma mangueira. Quebrei quase todos os ossos. Mais uma vez não morri. Não por falta de vontade. Sentia-me um inválido deitado naquele leito de hospital sem poder me mexer. Foi quando fugi manquitola. Até hoje sinto dores na perna quebrada. Mas o que são dores pra mim? Agora, que estou na beira da cova sinto que não chegou à hora de partir. Vivo nos descontos. Na prorrogação do terceiro tempo. Vivo sem contratempos. Sem pensar nos problemas vou vivendo e aprendendo a conviver com eles enquanto vivo. Sem deixar escapar a felicidade por entre meus dedos. Problemas, quem não os tem? Eu carrego os meus e não lamento. Cada um tem seu destino. E não se pode escapar do seu”.

Tenho meus próprios problemas. Equacioná-los da melhor maneira compete a mim mesmo. E a mais ninguém.

Meus problemas são muito pequenos. Por que enxergá-los sob lentes de aumento?

 

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