” Pra onde vamos”?

Aquela foi a noite que seu avozinho querido faleceu.

E a meninazinha, que amava seu avô, incrédula do acontecido, mal acreditava na partida daquele velhinho simpático. Que sempre brincava com ela. Dava presentes inesperados quando a visitava. E sempre sorria mesmo nas adversidades.

Seu Antônio, pai exemplar, sempre viveu para a família. Sempre dizia: “meus filhos são o bem mais precioso que tenho. O que dizer dos meus netos? Os filhos a nossa vida. Os netos a nossa esperança. Com esta certeza querida a vida nunca nos cansa”.

E naquela noite Seu Antônio descansou. Já estava bem idoso. “Velho não”! Dizia ele quando o chamavam assim.

Aos noventa anos exatos partiu rumo ao desconhecido. Sua esposa amada ficou. Mas logo iria acompanhar seu marido.

Naquela noite enlutada para aquela família que tanta amava seu patriarca Mariazinha ficou no seu quarto. E como ela amava seu avozinho. E ela fingia dormir. Mas de olhinhos fechados orava ao seu papai do céu que guardasse seu querido avô ao seu lado.

O sepultamento se deu no campo santo daquela cidade. Num túmulo cheio de flores que logo iriam morrer tal o calor que se desprendia do alto naquele dia de verão.

Lá no alto o sol incendiava os arrabaldes.

Lá pelas nove horas, já era noite, a mãe de Mariazinha voltou do féretro do seu pai. Triste, amargurada, lágrimas ainda umedeciam sua face.

Ela ainda passou pelo quarto de sua filha que fingia dormir. Mariazinha era filha única.

Boa menina, estudiosa, em verdade ela amava seu avô. O qual tinha por ela como não apenas sua netinha como sua maior amiga. Quem os visse brincando juntos pensava serem pai e filha. Já que o pai da menina sempre estava  ausente. Em longas viagens a negócio-dizia ele.

Naquela noite de tristeza, quando a mãe de Mariazinha passou pelo seu quarto, já era hora de dormir. Encontrou sua amada filha de joelhos. Ao pé da cama. Chorando copiosamente. Demonstrando todo amor que sentia pelo seu amado avô.

A mãe tomou sua filha nos braços tentando confortá-la.

Mal crendo no triste acontecimento Mariazinha desferiu a sua mãezinha uma série de interrogações. Ela, pequena menina, com a vida toda pela frente, não sabia por que razão um dia morremos.

E, já de olhinhos chorosos quase fechados perguntou: “mãe, seu pai fechou os olhos para sempre? Ou ele vai acordar novamente? Um dia a gente morre? Apenas velhos falecem? Ou criancinhas também se despedem da vida? E quando irei fazer uma visita ao meu avô? Eu posso visitá-lo onde ele está? E, antes que eu durma uma última pergunta. Pra onde a gente vai depois da morte”?

A mãe da menina tentando consolá-la da perda tão sentida, acarinhou-lhe a carinha desconsolada e disse: “ não fique triste minha querida menina. Meu pai agora mora no céu.  Ele, lá do alto, ainda nos vê. Um dia iremos nos encontrar. É um lugar lindo. Onde moram anjos e seres perfeitos. Lá, naquele lugar encantado não se enxergam defeitos nos outros e apenas virtudes. Não existe  diferença entre ricos e pobres todos são iguais. Lá impera a lei de Deus e não dos homens. E todos são felizes. E vivem na eternidade”.

Mariazinha fechou os olhos. E respondeu  a sua mãe: “ obrigado minha mãezinha. Que bom que meu avozinho se encontra nesse lugar”.

E dormiu num átimo de segundos. Sonhando um dia morar naquele lugar tão lindo.

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