Pensar demais por vezes machuca…
Mas pensamentos povoam minha imaginação.
Acordo com eles a deixarem meu cérebro, sempre irrequieto, a pensar na vida. No dia que tem começo. No ontem que se foi. No amanhã ainda indecifrável.
Penso, repenso sempre. Por mais que eu queira meus pensamentos não têm freios. E escorrem manhã adentro. Estendem-me tarde afora. E não descansam nem durante a noite.
Tento refreá-los. Debalde.
Eles despencam manhã afora. Num galope incontrolável. Nem pedem licença ao seu dono. E desobedientes, como eu fui menino, não consigo pô-los de castigo como dantes em minha infância perdida.
Pensamentos avoam pra longe como andorinhas que fogem do frio em busca de outras plagas onde o sol brilha no verão.
Eles não têm parança. E gritam tresloucados como insanos tentando se ver livres do manicômio onde foram aprisionados.
Ah! Se pudesse frear meus pensamentos.
A eles pediria que permanecessem aqui dentro. E ficassem quietinhos sujeitos as minhas vontades. E não saíssem de dentro do meu cérebro como pássaros soltos de gaiolas. Em busca da liberdade a que foram negados desde que um menino travesso aprisionou-os em um alçapão. Numa madrugada fria de um inverno passado. Triste destino que o levou ao desatino de viver trancafiado numa jaula como se fossem feras tais e quais leões.
Se pudesse prender meus pensamentos decerto faria. Pediria a eles um tempo. Um minuto que fosse. Uma hora talvez. Um dia inteiro. Um ano seria mais sensato.
Assim, feito deles prisioneiros, quem sabe essa trégua fosse suficiente para pôr minhas lembranças em dia. Aclarar minhas ideias. Submetê-las aos meus desejos.
Se porventura fosse capaz de refrear meus instintos. Subjugar meus anseios. Aplacar minha ansiedade. Meu sono fosse alongado. Quem sabe conseguisse dormir mais um pouquinho.
Mas meus pensamentos acordam mais cedo que seu dono. Acho que eles pensam durante o sono. Mesmo que ainda esteja dormindo.
Se pudesse vendar meus pensamentos fá-lo-ia num piscar dolhos.
Mas eles não me obedecem. São voluntariosos como filhos ingratos. Os quais deixam a casa dos pais sem se despedirem deles. E não voltam como filhos pródigos. Arrependidos daquele ato irresponsável.
Se pudesse controlar meus pensamentos. Domá-los. Pô-los sobre freios. Quem sabe seria possível. Num dia perto. Ou distante. Seria como um sonho convertido em realidade.
Mas, no momento presente, isso não passa de mais um devaneio meu.
Já que meus pensamentos avoam como pássaros. A procura de não sei o quê.
De um dia atenuar minha ansiedade. Amainar minhas angústias. Dar um descanso à minha intempestividade.
Quem sabe aí, no dia em que conseguir vendar meus pensamentos, me tornarei mais feliz.
Mas eu não consigo. Nem ao menos tento.
Meus pensamentos avoam mais alto que eu.
E não sei voar. Por isso deixo-os entregues aos seus desejos.
Talvez deseje que permaneça como está. Não consigo parar de sonhar. Um dia quem sabe?
No dia quando conseguir por vendas nos meus pensamentos nesse dia me sentirei liberto dos grilhões que me prendem à vida. E me despeça dela. Quando? Ainda não sei. E nem desejo saber.