A vida nos presenteia com instantes de pura alegria e outros recheados de tristeza.
Quem diz que vive rodeado de felicidade se engana. Já que ela não tem, como as estrelas, ou a luz da lua, aquele brilho de sempre.
Devemos nos contentar com instantes de felicidade. Já que outros são entremeados de amargura e desconsolo.
Eu mesmo tive meus momentos de alegria plena.
Antes, bem antes, quando vivia naquela casa, que daqui se avista pelos fundos, em companhia dos meus pais, mal sabia o que significava a palavra melancolia. Ela não existia no meu entendimento. Pois eu, criança ainda, poucos anos ao lado deles, só vivia para os folguedos. Se por ventura cometesse um pecadilho era logo perdoado. Era logo posto de castigo. Mas deixava aquela cadeira dura em alguns minutos apenas. E fingia ter fome. Como não gostava de leite implorava a minha mãezinha por um copo bem cheio. Agora, tempos idos, a idade me cavalgando as costas, como amo o tal leite. Misturado a uma banana bem madurinha. Batido no liquidificador mesclado à Malthodextrina sabor limão. Não há coisa melhor para acordar-me bem cedo. Chegar disposto aqui onde estou. Desovando toda a inspiração que me cavouca as entranhas. Escrevendo a cada manhã o que minha inspiração dita.
Como disse dantes a vida é entremeada de bons e maus momentos. Se fossem apenas os bons como avaliar quais seriam os maus?
Há coisa de vinte e tantos anos perdi meu pai. Há alguns dias apenas perdi o segundo.
O primeiro, gerente de uma casa bancária, já aposentado, não satisfeito com o ócio, começou vida nova na advocacia. Pena que pouco durou essa nova caminhada. Uma doença pertinaz fê-lo partir.
Resta-me um consolo que, se ele estivesse aqui, estaria com certeza lendo um dos meus livros. E palpitando sobre algum deles. Já que era um entendedor de letras. E como era gostoso ler suas petições advocatícias naquele escritório no subsolo de sua casa hoje reduzida a um lote vazio.
Já o segundo partiu na semana passada. Meu revisor, poderia dizer confessor, o grande professor Russi, foi pra mim o segundo pai. Grande amigo. Com quem dividia horas na sua sala sempre rodeado de livros.
Resta-me um consolo que nos dias de agora ambos se encontram num lugar encantado. Quem sabe trocando confidências. Revisando meus textos. Craseando aqui, pontuando ali, concordando ou não com minhas frases longas dizendo que seria melhor encurtá-as um pouco mais.
Desde o passamento de meu pai comecei a escrever. E não parei mais.
Tenho, as minhas costas, cerca de vinte exemplares de minha lavra. Rakel foi o derradeiro.
Se disser que valeu a pena editar tantos livros. Pela soma desembolada. O lucro não se mede em cifras. E sim em comentários elogiosos que tenho recebido pelas minhas crônicas postadas em redes sociais.
Ontem mesmo, no debrum da noite, foi um amigo escritor quem deixou comentários elogiosos pelo Face.
Quase não acreditei em suas palavras. A emoção me fez chorar.
Disse o Miro, entre outras: “ nossa cidade de Lavras tem o orgulho de ter como filho adotivo, uma vez que seu berço e seus primeiros anos de vida foram vivenciados na vizinha Boa Esperança, o médico, romancista e cronista, Dr Paulo Abreu. Não sei porque seu nome não está no Guiness Book (livro dos Record). Afinal, algum tempo atrás ele fez questão de me confidenciar que já havia atingido o expressivo número de quinze mil crônicas. É tanta habilidade com as palavras que em um piscar de olhos ele é capaz de pegar as vinte e seis letras de nosso alfabeto, colocar num liquidificador( a mente), que não mente, e em poucos minutos nos oferecer uma deliciosa crônica. Aliás, com seu estilo literário, não se resume apenas em crônicas. Com vários romances publicados ele demonstra seu expertise também nesse seguimento literário. Se não estou enganado com esse mais recente lançamento ele atinge a meta de vinte livros publicados. Paulo Abreu tem muita facilidade com as palavras. Brinca com as letras do alfabeto como uma criança de antigamente brincava com suas bolinhas de gude”.
E por aí ele vai. Dizendo maravilhas sobre meus escritos.
Ainda tenho muitos livros a serem vendidos. Um montão deles.
Teria valido a pena a soma gasta com tantas publicações? O valor pago por elas vai voltar algum dia?
A mim resta um consolo.
Ao meu amigo Miro. Valeu sim. Esse comentário feito na noite de ontem não somente me envaideceu como me fez ir às lágrimas.
Por esse motivo escrevo tanto. Não na intenção de receber o pago pelos meus livros. E sim por ter pessoas como você, Miro, a apreciar os meus escritos.