Quem disse que quem espera alcança. Contrario o dito dizendo: no meu entender apenas cansa.
Agora recomeçou a caçada aos tostões engendrado pela poderosa rede Globo.
Na mesma hora mudo de canal. Não creio nas boas intenções daquele canal televiso.
Famosos, com seus sorrisos de lagartos pedem doações. Pra onde elas irão? Não sei ao certo. Quem sabe o seu destino seria engordar a conta bancária daquela emissora endividada que vive as custas de nossa audiência.
Como se fosse possível ter esperança nesse país tão dispare. Onde endinheirados engordam suas poupanças conquanto a pobreza viceja como erva daninha num jardim mal cuidado. E crianças sofrem mendigando esmolas pelas ruas. Meninos e meninas abandonadas à mercê de drogas que acostumaram a consumir desde tenra idade.
Esperar dias melhores? Quando eles hão de vir? Num amanhã incerto?
Viver na incertidude de nossos tempos difíceis. A espera das benesses de um desgoverno que só tem olhos pra ele mesmo. É o que nos acena o presente. Já que o futuro não mostra algo melhor que a realidade que estamos vivendo.
Exemplos pululam por aí.
Aquela criança, com a qual me cruzei pela rua, numa tarde sombria, ao me pedir um auxilio, com seus olhinhos lacrimejantes. Não tive como não parar um minuto.
Ela se chamava Clarinha. De fato tinha uma pele branquinha como flocos de algodão.
De olhos de um azul intenso. Cabelos tintos de um amarelo canário lindo como seu canto.
Em verdade elazinha me encantou. Entabulamos uma prosa que pouco durou.
“ Menina. O que fazes na rua a esta hora? Não deveria estar na escola? Ou na casa dos seus pais”?
Ela, com aquele sorriso doce, mal me respondeu. Talvez assustada com meu interrogatório inoportuno.
Fiz menção de ir embora não sem antes deixar em sua mãozinha uma nota de dez reais.
Vi-lhe um leve sorriso a alegrar-lhe o rosto. E ela agradeceu com um muto abrigado.
Na volta encontrei-a no mesmo lugar.
De novo insisti em tirar dela algumas palavras. Uma mistura de curiosidade e compaixão me fazia continuar a prosa.
“ Menina, você não tem pais? Vive nas ruas. Quantos anos você tem”?
Foi quando ela se abriu em palavras. Quase sussurrantes.
“ Meu caro senhor. Tenho dez anos. Completos no dia de hoje. Meus pais são separados. Vivo com minha avó. Ela, boa senhora, aposentada com um salario mínimo, passamos por dificuldade. Eu ajudo levando pra nossa casa algumas doações. Não posso ir à escola. Nem estudar posso. Agradeço a sua doação. Ela vai ajudar a comprar alguma coisa para fazer no almoço. Sinto fome. Minha avozinha mal escuta. E vive acamada. Não tenho esperança de um futuro melhor. Não sei o que vai ser de mim num amanhã incerto”.
Quando vejo na televisão aquele “tal criança esperança” mudo de canal. Sinto que deveríamos sim ajudar a quem conhecemos de perto.
Esperar o quê? Vivendo nesse país tão desigual? Onde a politicagem impera sem indícios de que vai mudar? Onde roubalheiras não são punidas como deveriam?
Deixei a meninazinha a espera de outras doações.
Despedimo-nos com um sentimento de tristeza a martelar-me por dentro.
A esperança seria a última que morre. Mas ela morreu dentro de mim naquele instante. Vendo aquela pobre menina a esmolar naquela esquina.