Engana-se quem pensa ser a morte o final de tudo

Não se morre duas vezes.

Pelo menos foi assim que aprendi.

E se existe vida depois desta. Mais uma indefinição que me acompanha.

A gente nasce. Passa pela vida sem saber quando ela vai terminar. E fecha os olhos para sempre. Sem saber se vamos acordar.

E como será o tal lugar. Pra onde iremos no mais tardar.

Seria um lugar magnífico como a casa onde passo finais de semana. Ontem mesmo estive lá.

Em boa companhia de meus dois cães ainda jovens. Clo e Robson mal completaram um ano inteiro. Pena que acabei voltando cedo. Deixando meu céu entregue a beleza do lugar.

Por vezes me indago: seria em verdade a morte o último degrau de nossa existência? Ou teríamos mais alguns a galgar.

Morte deveras se trata de uma longa escada. E muitos tropeçam degrau por degrau. Chegando ao cume deixando a razão maior de nossa vida sem saber o que significa a palavra mágica felicidade. Se não a encontramos tudo que vivemos perde o sentido. Daí a morte antecipada de tantos jovens desiludidos. Que põem fim a ela sem tê-la vivido em sua plenitude máxima.

Tenho vivido nos meus mais de setenta anos intercalando momentos felizes e outros nem tanto. Assim escorre a minha vida.

Escorreguei muitas vezes. Cai e me levantei.

Ainda longe da aposentadoria agora me permito abocanhar a felicidade com a mesma ferocidade com que meus  cães mordem um naco de carne.

Consome-me um prazer enorme em dar vida ao cotidiano. Sou um lambe lambe da saudade.

Não consigo me livrar do passado. Embora viva o presente tenho pelo futuro olhares descrentes. Não sei o que ele me reserva. Nem pretendo.

Há dias atrás lancei meu romance de número cinco de nome Rakel.

Foi uma cerimônia simples mas pra mim de grande valor.

Não pelo número de livros vendidos. E sim pela presença de amigos caros.

Entre eles merece menção meus dois netinhos. Tho e Dom coroaram de êxito aquela noite.

O que mais me chamou a atenção foi o fato de o Theo, a hora que eu autografava alguns exemplares, ele, inteligente o danadinho, apoderou-se de minha caneta e passou a rabiscar uma folha de papel com seu nominho em letras maiúsculas.

Finada a efeméride, já com meu exemplar autografado, sua mãe, minha filhota Barbara, me disse que seu filho a ela afirmou que gostaria de ser como seu avô escritor.

E que iria vender muitos livros. Era essa a sua ambição futura.

Agora, prestes a encontrar meu netinho em sua casa. Netos são a nossa esperança.

Pensando na inevitabilidade da morte. Da sua chegada sem hora marcada. Sem aviso prévio. Sem se anunciar qual dia e hora.

Enfim cheguei a seguinte conclusão.

A morte é consequência de viver. Morrer seria em verdade o final dos tempos?

Engana-se quem pensa ser a morte o final de tudo.

Filhos, netos, estão aí pra dizer o revés.

 

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