A descrença nunca fez parte do meu eu.
Creio na luz que me ilumina. Ao mesmo tempo me dou bem na escuridão.
Dou fé na maioria das pessoas. Mesmo que muitas delas não respondam aos meus anseios.
Acredito sim que dias melhores virão. Apesar de ver, com meus olhos sempre abertos, a miséria que campeia pelas ruas.
Sou crédulo na natureza humana. Embora muitas vezes me decepcione.
Deposito minha crença que um dia, tomara ele chegue logo, que as diferenças sociais não sejam tão acachapantes. Que a classe dominante se reduza a migalhas. Que a distinção entre ricos e pobres seja reduzida a uma ínfima percentagem próxima a zero.
Creio sim que a incultura seja erradicada como erva daninha. Que os jardins sejam sempre floridos. E que valorizem os jardineiros.
Deposito minha fé num país onde livrarias e bibliotecas sejam abertas e não fechem as portas. Ao mesmo tempo sonho com um monte de livros abertos e leitores ávidos por entrarem em suas histórias.
Sonho morar num país onde crianças e jovens respeitem os professores. Não seríamos médicos ou engenheiros sem a tutela dessa classe tão desvalorizada.
Podem me chamar de sonhador. Mas sem sonhar eu não vivo.
A cada ano edito um novo livro.
Ontem foi o dia de Rakel.
Ela, aquele moleca andarilha, que um dia encontrei dormindo ao sol do meio dia aqui perto, fez-me avoar pela Amazônia.
Ela se fazia acompanhar de seu amado Fritz. Um motorista que a levou ao norte. E lá encontram sua salvadora a advogada Ângela. Que se apaixonou pela amante do vilão Eusébio. A linda Manuela que a ela mostrou o mesmo amor embora fossem do mesmo sexo. E a esse quarteto, personagens principais do meu romance, somaram-se dois indiozinhos yanomamis – Tom Zé e Yansé desafiaram os perigos da linda Amazônia. Esticaram as andanças indo até o país vizinho. A Venezuela tão sofrida sob jugo ditatorial de um tal Maduro. Um presidente muy amigo do nosso atual. Em quem não deposito minha crença num Brasil melhor pra nossos filhos.
Esse romance, meu vigésimo primeiro livro, foi lançado na noite de ontem.
Confesso que esperava maior público. Mas fui agraciado pela presença de muitos amigos.
Embora ainda tenha incontáveis livros a disposição dos leitores. E minha estante esteja lotada de volumes. Mesmo assim não desanimo.
Continuo a escrever. Não paro.
Mesmo assim continuo a acreditar no meu sonho de sonhar sempre.
De olhos abertos, nesse sete de julho, depois de uma noite povoada de sonhos.
Sonho sim com dias melhores para nosso país.
Onde brasileiros e brasileiras descubram o prazer de uma boa leitura.
E livros se tornem objetos de consumo disputados nas prateleiras.
E a educação de fato seja posta em lugar de destaque. E a cultura seja valorizada ao mesmo tempo que alardeiam que seja.
Mesmo sabendo que livros ainda não sejam tão importantes quanto deveriam.
Não desisto. Persisto em editá-los.
Um a cada ano.
Quem sabe um dia valorizem-nos tanto quanto eu.