Antes pensava ter todo o tempo do mundo

Tempo. Como ele escasseia ao passar dos minutos. Como ele se esvai com o rodar das horas.

Como ele, apressado, antes meu relógio marcava cinco de meia agora os ponteiros assinalavam quase seis da manhã.

Antes, bem meninozinho, aos cinco aninhos não via a hora de chegar dezembro. Logo no dia sete assoprava velinhas naquele lindo bolo de aniversário.

Naquela sala de jantar, rodeado de amiguinhos, ao lado de meus queridos pais, celebrava em festa meus seis anos. E desembrulhava um a um os presentes. Bem me lembro daquela bicicletinha de rodinhas amarelas presente de meu avô Rodartino. Foi aquele o primeiro ano passado nesta cidade. Já que foi em Boa Esperança onde nasci.

Naqueles anos doirados ainda não pensava no tempo. Nem sabia contar nos dedos quantos anos ainda me sobravam. Era-me indiferente o passar dos anos.

Pena que a gente cresce. E envelhecemos. Querendo ou não os anos contam. E como pesam…

Se fosse contar histórias de meus cumpleanos creio não me lembraria nem da metade de minhas festinhas de aniversário. Contabilizando todas num bolo só não caberiam tantas velinhas acesas. Se tornaria um perigo iminente incendiar todo o ambiente.

E os anos passam. Eles passarinham como passarinhos avoam. Tão velozes como as asas de um beija flor. Quando nos detemos a observar o tempo não mais temos vinte anos. Quando acordamos já não somos mais meninos. No instante seguinte nos vemos de barbas brancas. Noutro momento caímos num leito de hospital e não mais nos levantamos. E acabamos implorando para que desliguem os aparelhos que nos mantém vivos.

Antes pensava sermos imunes ao envelhecer. Doces lembranças de quando éramos crianças.

Mas a idade chega. Sem se anunciar. De repente, não mais que num repente, como repentistas cantam em seus versinhos trôpegos, uma hora chega quando menos se espera. Quem espera a  sua hora cuidado. Ela pode chegar antes de sua hora exata. E nos fazer surpresa. Vinda de sobremesa de um lauto jantar.

Antes, em meninos ainda, pensávamos ter pela frente todo o tempo do mundo. E que esse mundo era só nosso. E não precisávamos reparti-lo com ninguém.

Pena que mais uma vez os anos passam. E a gente passa a viver só de lembranças que a vida nos traz.

Ah!, não fossem elas…

Não seria formada a palavra saudade. Ela nos faz recordar de fatos passados que não seriam olvidados. Já que o presente importa sim. Mas já que o futuro é uma incógnita não penso tanto nele. Como a palavra passado ecoa em meus ouvidos e ressoa como música de rico lirismo.

Mas, se me fosse permitido ir ao futuro diria um não. Mas, se me perguntassem se gostaria de voltar tempos atrás diria sim.

E quando? Aos cinco?  Anos mais?

Responderia, sem titubear, aos quinze anos.

Em que cenário?

No mesmo clube onde jogava tênis  em companhia de meu pai e amigos.

Muitos deles já não mais estão presentes a não ser em minhas lembranças. São tantas que muitas foram esquecidas. Mas meus quinze anos, jamais.

Naqueles verdes anos pensava, sonhava, ter todo o tempo do mundo.

Agora, prestes a completar setenta e quatro, vivendo na prorrogação, nem quero saber quanto de tempo me resta. O que me importa é aproveitar cada minuto, cada segundo, cada hora que passa.

E elas passam velozes como o tempo passado.

Antes, quando comecei esse texto o relógio apontava cinco e meia.

Agora pelo mostrador  de meu relógio já passa das seis.

E logo chega as oito. Quando o médico que mora em mim recomeça a sua lida diária. Enfim…

 

 

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