Por vezes me sinto meio desanimado.
O por que de tantos porqueres me apoquenta.
Por que pássaros voam fugindo do frio para lugares mais quentes?
Neste caso a reposta é óbvia. A razão salta à vista. Andorinhas emigram a lugares onde a comida abunda e a temperatura é mais amena. Garças e outros pássaros símiles são vistos pousando na superfície de lagos onde peixes podem ser facilmente pescados com seus bicos preparados para a pescaria.
E se me perguntarem a razão de tanto escrever quase compulsivamente a cada manhã publicando livros pela minha conta perfazem mais de vinte. Eu talvez responda: “ não sei”.
Mas pensando melhor qual a resposta daria seria esta: “ pelo simples prazer de algum leitor dizer- como eu aprecio as suas crônicas. Elas me tocam fundo na sensibilidade. Sei que o senhor tem verdadeira adoração pelo ato de deixar nas teclas do seu computador os seus escritos. Sei ainda que muitos livros seus entulham estantes e se amontoam em pacotes fechados a espera de serem postos a luz do dia. Sei ainda que em nosso país poucos têm o saudável costume de ler. E podem achar caro pagar alguns míseros cinquenta reais por um livro seu. Enquanto desembolsam, num botequim qualquer, mais de cem por uma cerveja mal acompanhada de tira gostos de sabor duvidoso que são ejetados no vaso sanitário no dia seguinte provocando uma dor de barriga intensa.”
Mesmo assim eu persisto e não desisto. Coleciono livros impressos mesmo sabendo que a internet e os celulares dominam a preferência da maioria daqueles jovens que conversam com a gente sem nos olharem na face presos que estão de olhos fixos em seus aparelhos.
Sei ainda que os e-books estão na moda. E que a internet vicia da mesma maneira que drogas provocadoras de dependência.
Mas, com que prazer diz-me aquele leitor: “ ontem passei a tarde inteira na roça. Debaixo de uma mangueira li duas vezes um livro seu. Sem eletricidade as páginas se sucederam. E cheguei ao final antes que a noite me impedisse de tirar minhas próprias conclusões de seu livro cujo nome era “Por quem os sinos não dobram.”
Outra vantagem de editar livros saídos das editoras é que se pode deixá-los esquecidos num banco de praça qualquer. Quem o encontrar, se você deixar seu nome e endereço numa página. Decerto ele vai devolver.
Quem ainda não leu o livro intitulado “ a menina que roubava livros” perdeu.
Eu li pensando no título.
A minha versão é assim.
Uma meninazinha, linda e estudiosa, que na escola só tirava notas boas, um dia viu o pai escrevendo um livro.
Ela acompanhou, de olhinhos extasiados, todo o desenrolar da trama.
Assim que voltava da escola logo, depois do dever cumprido, achegava-se ao pai, sem sequer interrompê-lo, e acompanhava em silêncio aquele escrever frenético.
Ao final de um ano inteiro o livro terminou. O prazer que Mariazinha sentiu foi o mesmo do seu progenitor.
Enfim o livro chegou ainda quentinho da editora.
O pai de Mariazinha recebeu aqueles pacotes trêmulo de emoção. Era afinal a coroação de seu sonho. Materializado naquele amontoado de papel.
No dia seguinte o pai da meninazinha deixou a casa e foi a praça mostrar seu livro aos amigos.
Não na intenção de passá-lo adiante e sim orgulhoso de sua primeira obra literária.
Mas, naquele alvoroço, no meio da praça, acabou esquecendo um deles no banco.
Foi Mariazinha quem percebeu o esquecimento do pai.
E interpelou-o dizendo assustada: “ pai, cuidado! O senhor deixou um dos seus livros no banco. Ele vai ser roubado.”
Já o pai, experiente e experimentado escritor, tranquilizou sua amada filha com essas palavras de consolo: “ não se preocupe Mariazinha. Livros não atraem a cobiça de ladrões em nosso amado pais. No máximo alguém pode levar pra casa e usar como lenha na fogueira.”