Quem não as teve não nasceu. Não cresceu. Não experimentou espinhas na face. Não olhou para aquela linda menina do lado e ela correspondeu ao seu olhar apaixonado. E acabou sonhando com ela mas acordou desolado pois elazinha não olhou pra você e sim para o colega do lado.
Amor, um sentimento que inunda o nosso peito sem saber a razão e o porquê.
Ele simplesmente acontece como a chuva que cai. Como o vento que assopra as folhas mortas.
Como nosso cabelo esvoaça despenteado à mercê de uma ventania.
E muitos confundem amor e paixão.
Amor não incorre no senão de terminar assim que as formas antes lindas e angulosas se transformem em ancas não mais generosas. E a beleza daquela que o fez encantar-se por ela metamorfoseou-se em puro desencanto. Pois quando a idade chega aquele sorriso brejeiro é substituído pela dentadura mal feita. Que escapa da boca ao beijo mal dado de olhos fechados para não enxergar a pessoa envelhecida que dorme ao seu lado.
O amor de verdade resiste a tudo isso. E ele não sucumbe ao envelhecimento pois quando se ama de fato os defeitos são esquecidos e as qualidades sobressaem ainda mais.
Quando se ama de fato a paixão persiste se bem que mudada.
O sexo, se acontece, ocorre não tão sofregamente. E não se chega ao desfecho com tanta velocidade. E ambos exaustos idosos continuam a se acarinhar em plena madrugada até o dia clarear.
Amor e paixão são vitais para que persista a união. Quando um diz: “hoje não. Estou cansado. O outro vira pro canto e aceita, de bom grado, e deixa pra outro dia qualquer a ainda prazerosa relação.”
Desventuras de amor quem não as teve.
Se não amou de verdade. Não se apaixonou com qualidade. Não teve lampejos de saudade quando a outra se foi.
Eu o conheci há tempos idos.
Seu nome era Chico. Em verdade Francisco nasceu no dia de um santo de nome Bento. Num dois de marco há inexatos cinquenta anos atrás.
Ele nasceu prematuro. Sempre apressadinho deixou o útero de sua mãe antes dos sete meses.
Quem viu aquele menino feio como urubu pelado a ele não daria mais que um ano de vida.
Mas Chiquinho fez queimar a língua de todos que vaticinaram sua curta existência.
Seus pais viviam numa rocinha perdida nas bandas do município de uma cidadezinha esquecida pelas administrações passadas cuja população ao invés de crescer diminuía.
Aos dez anos, uma vez matriculado numa escolinha rural, o pobre menino sofria bullying por ser, além de gago fanho.
E sua aparência nada lembrava a de um Brad Pit quando se juntava à Angelina Jolie em seus melhores dias.
Era mais feio e desapetrechado de formosura que até o espelho lhe virava a cara quando o garoto penteava seus ralos cabelos duros.
E aos dez anos se apaixonou pela primeira professora. E ela, não precisa dizer que nada queria com ele.
Aos quinze teve a sua primeira experiência sexual. O desejo a ele se manifestava em poluções noturnas a cada madrugada. O lençol de sua cama amanhecia todo manchado de um liquido gosmento com odor muito parecido ao liquido seminal chamado de esperma.
Aos quase vinte, completos naquele ano, o pai, vendo as tribulações de natureza íntima por que passava o filho, acabou por levá-lo a um prostíbulo nas vizinhanças da cidade.
O não mais garoto nunca havia visto garotas como aquelas. A sua professorinha nem lhe chegava aos pés dos chinelos.
Umazinha em especial o agradou em cheio graças ao seu recheio farto com nádegas roliças e pernas grossas sem nenhum pingo de celulite a macular-lhe a beleza.
Chiquinho Bento se benzeu e pediu a ela licença para lhe fazer companhia.
Seus olhos vesgos, ao se cruzarem com os delas, soltaram chispas de amor ao primeiro olhar.
Não podia dizer o mesmo no caso dela.
Mariah, esse era seu nome, não sei se legítimo ou dado por força das circunstâncias pecaminosas em que ela vivia. Ainda mocinha e virginal deixou a casa da família aos menos de doze anos. Por pura incompatibilidade de gênios entre ela e o pai. E se enveredou pelo caminho da perdição.
Naquela noite, depois de uns drinks que fizeram tudo girar, enfim Chiquinho Bento teve a sua primeira noite de amor. E acordou sem saber exatamente o que havia acontecido.
A linda Mariah, ainda dormindo ao seu lado, sem peruca, sem as próteses que usava tanto na parte de cima como no traseiro, acordou falando grosso.
Era uma Mariah completamente diferente. Desvestida de seus trajes de fêmea ela, ou ele, se chamava em verdade Maurício.
Meio trôpega ela, ele, saltou da cama e foi direto ao banheiro. Não sem antes calçar uma bota presumivelmente número quarenta e sete.
E voltou ao quarto do jeito que nasceu – macho, sim senhor.
Descarece dizer a desilusão do pobre Chico Bento.
Desde então, passada essa primeira desilusão, ele se amasiou com uma garota de programa de nome Thaizinha.
Dando um ponto final em suas desventuras de amor.