Sabia sim que saudade tem outro nome- lembrança.
Agora, dividir felicidade ao meio, era pra mim desconhecido.
Embora felicidade não se pode mesurar em jardas, metros ou outros sistemas de medidas, ser feliz não se dosa. Ela se mostra em prantos. Quando é chamada tristeza. Em lamentos depois de despedidas.
Sei ainda que para ser feliz pra mim se resume a tão pouco. Mas, ao mesmo tempo em que a tal felicidade inunda a nossa casa com seus raios brilhantes assim que o sol acorda. Como nessa manhã que começou fria e agora o sol cuidou de aquecê-la, tive de me desvestir do agasalho usado antes ao acordar ainda sonolento nesta linda manhã dezoito de junho.
Passamos o sábado naquele lugar ao qual comparo ao paraíso terreno.
E ele fica tão perto que pode ser alcançado pelas pernas desprovidas de rodas.
Não é preciso nos despedirmos da terra para chegar ao céu que considero esse meu lugar especial.
Ele fica há alguns parcos quilômetros de aqui do centro de minha cidade. E quantas vezes já percorri estes dezessete quilômetros sem usar minha caminhonete sempre estacionada defronte ao prédio onde resido.
Mas no dia de ontem fiz-me acompanhar de amigos caríssimos. Marcelo, o churrasqueiro amigo de verdade, fez-se acompanhar de sua esposa Rose. E minha Rosa da mesma forma nos acompanhou com sua vontade irredutível de transformar nossa rocinha em um lugar ainda mais magnifico.
A primeira providência que Marcelo tomou foi de soltar meus amiguinhos que vivem lá presos entre grades de um canil com todo conforto. Clo e Robson, o pretinho irrequieto, assim que são libertos de suas grades logo me procuram abanando os rabinhos felizes da vida por se verem ao meu lado.
Clo não me deixa andar sem correr como o pretinho Robson faz espevitadamente correndo atrás de minhas éguas importunando-as com seus latidos frenéticos.
Ontem ele aprendeu uma lição da qual penso não vai esquecer daqui pra frente.
Uma delas, de nome Sandrele, uma vez solta de sua baia, para se ver livre do assédio latidor de meu cão deu-lhe um coice certeiro na pata da frente. Lá do alto só ouvi um ganido de dor partindo do moleque Robson. E ele veio sem gracinha acusando dor na sua mão direita.
Clo logo veio ao seu auxílio lamber-lhe o dodói. E eu o recriminei avisando-o para não repetir a arte.
Uma vez Robson curado de suas dores. Ele é um cão valente e destemido. Em menos de meia hora já estava correndo atrás de vacas. Mas elas não fizeram caso de sua valentia e desdenharam de sua cara feia.
Já Clo, aquele lindo filhotão da raça fila brasileiro. Com aqueles olhos verdes e sua pele tigrada.
No meio da caminhada voltava a sua cabeça e me olhava como se quisesse me dizer: “ meu amigo Paulo. Não me deixe muito tempo sem me ver. A minha felicidade só existe quando você me solta. Á sua falta a saudade aperta. Pois nossas caminhadas é o combustível que enche o peito de prazer. E a saudade aumenta pelas lembranças que tenho de você desde quando me trouxe ainda filhotinho lá de perto de Macaia. Por favor meu amigo doutor Paulo. Se em verdade existe felicidade a minha tem a sua cara. Quando você não aparece por aqui a felicidade que sinto parece ser divida a sua metade. Uma quando você vem. A outra quando não o vejo aqui. Nesse paraíso que você criou. Mas ele se transforma num inferno devido a solidão que ficamos entregues eu e Robson”.
Essa verdade provada pelo meu amigo Clo é a mais pura expressão da amizade que me une aos cães indistintamente.
Felicidade pode ser fatiada ao meio? Antes e depois da partida? E a saudade que permanece? Da mesma forma pode ser dividida. Entre quem parte e aquele que fica.
Clo e Robson. Não se preocupem. Na semana que vem vou estar mais uma vez dividindo a minha felicidade com vocês.