Quem já não viu, ou observou, dá no mesmo, quando, naquela loja que anuncia Black Friday, no entanto as tais pechinchas não são confiáveis, ofertas especiais que o cliente tem de levar na hora, seja nos ombros fortes ou num carro alugado, a condição estampada em lugar bem visível: “caso a compra seja feita em nossa loja, no dia de hoje, não aceitamos a mercadoria de volta. Pode ir ao PROCON ou a qualquer entidade de defesa do consumidor, por mais exigente que seja”. Assim é.
Mas o caso que narro agora é a pura expressão da verdade, acreditem se quiserem…
Numa rocinha singela, onde mulher, mesmo banguela e fanha da voz, ou com defeito nas pernas, nas três?, pensem bem, era artigo de luxo. Na roça mulher não tem futuro. Pelo menos assim me disse uma eficiente secretária que me passou por onde escrevo, de nome Vanessa a Formosa, que hoje se tornou dona de casa das melhores.
Ali, naquele pasto sujo, onde o capim braquiária acabou por sumir nas ervas daninhas, vivia e sonhava acordado um tal de Seu Mané, caboclo de riso fácil, pronto a empunhar a enxada ou a enxó, bom carpinteiro que era, sonhava e ressonava com mulher.
Até a idade que conta agora, mais de cinquenta anos nos costados duros, a única fêmea que lhe passou pelos órgãos genitais foi um égua castanha, duas galinhas que já morreram, uma cabritinha por quem se apaixonou de verdade, foi amor mesmo, não paixão, e só, então.
Ah!, já ia me esquecendo de uma jumenta pega, linda que nem ela só. Esse foi um caso apenas, que não acabou em casamento, e sim num ajuntamento que terminou bem logo começou.
De todos estes consórcios não nasceram filhos. Deve ter sido por incompatibilidade de genes.
Imaginem como seria a cria do Seu Mané com a galinha, ou com a eguinha castanha, ou até mesmo com a pequenina cabritinha de nome Simone? Seria sem sombra ou sol de dúvidas uma aberração da natureza furiosa.
O fato que conta em nossa história é que o Seu Mané carecia muito de uma fêmea da mesma espécie com quem dividir as cobertas no tempo de frio. Ou encobrirem-se a cabeça no edredom, caso fosse tempo de calor.
Passaram-se anos, dois, três.
Até que finalmente a sorte parecia sorrir para os lados do pobre homem só (Seu Mané não tinha sobrenome, era apenas Seu Mané).
Numa tarde, quase noite, estava escuro, pirilampos com suas lamparinas ligadas, não se sabe donde, iluminavam com suas luzinhas piscantes o céu da roça do Seu Mané Só.
Foi quando, quase dez da noite, assistindo a uma besteira qualquer na televisão valvulada, não existia naquele espaço ermo os tais aparelhos modernos, TV a cabo, ou uma Sky qualquer, na porta da casinha amarelazul apareceu uma moçoila que aparentava mais de alguns anos.
Era dona Josefina da Saia Curta e da perna fina.
Uma balzaquiana de não se jogar fora, à falta de coisa melhor.
Era bem mais bunduda que a jumentinha nariguda, ou mais espertalhona que a galinha cacarejante e cagona.
Seu Mané a acolheu em casa com a maior desenvoltura. Ficou todo animado com a companheira da mesma laia que se apresentava àquela hora da noite.
Na primeira noite dormiram em quartos separados. Na segunda, da mesma forma. Mas na terceira, na quarta e daí em diante, resolveram juntar as cobertas.
Foi um sexo pervertido e malsinado. Talvez devido à inexperiência do homem de meia idade.
Seu Mané funcionou a meia rédea mesmo a poder de Viagra. Foram felizes até certa idade.
Mas, outro menos mas, com o tempo festejando novas idades, com a velhice se aproximando com suas pernas loquazes, o casal acabou se desentendendo.
Seu Mané queria uma coisa. Dona Josefina da perna fina, outra.
Nada parecia mudar o status quo.
Dona Josefina gostava de ir ao supermercado na cidade próxima. Seu Mané preferia a venda do compadre Onofre.
Seu Mané queria por que queria pagar com cheque pré-datado. Sua mulher fazia questão de comprar fiado. Ou na caderneta, missão impossível nos dias de hoje nas grandes lojas de alimentos.
Um belo dia, era sábado, final de novembro, quase chegando o mês de Natal, foram os dois juntinhos (pera aí, na história se conta que os dois não combinavam?).
Dona Josefina, empurrando o enorme carrinho de rodinhas travadas foi por um lado.
Seu esposo, acabaram se casando apenas no cartório civil, na igreja nem passaram perto, foi por outra banda de lado.
Passaram-se duas longas horas. Depois de mais de três Dona Josefina deu falta do marido falido naquilo que os machos dão graúdo valor (desnecessário dizer ser o pênis o falecido morto) .
Seu Mané da dona Josefina acabou desistindo de procurar sua dama de copas. Ou seria de ouro? Melhor se fosse urina mesmo.
Nada de os dois se encontrarem.
Seu Mané, já na caixa registradora, com o carrinho cheio de compras fúteis, reclamou ao gerente do supermercado a falta da esposa.
No alto falante da loja foi dada a notícia em primeira e segunda mão.
Nada de a dona Josefina da perna fina ser encontrada.
Até que, quando a balconista linda da caixa registradora passou todas as compras, a fila estava grande como elefoa grávida, a moça piscou em direção aos olhinhos carinhosos do Seu Mané, e viu que sua conta bancaria não era de se jogar fora, e acabaram unindo a fome com a vontade de comer.
Foi quando a Dona Josefina resolveu aparecer. Toda descabelada, pernas rapadas, olhos com olheiras visíveis de longe, reivindicando seu marido.
Seu Mané, já de caso com outra mulher, muito melhor, despachou a pobre enjeitada Dona Josefina com um chega pra lá: “sai muié”!
Foi quando o gerente da loja tentou intermediar a inusitada situação.
“Não aceito troca, e nem devolução”. Disse de pronto o feliz ex solitário do Seu Mané do sítio abobra podre.