Este não foi um ano fácil.
Não só pra ele. Como para o resto da humanidade.
Tudo conspirava para o fracasso.
Primeiro a chuva não caiu na hora certa. A roça de milho não vingou. As espigas se tornaram raquíticas. Os pezinhos de milho não alcançaram meio metro do chão. As vacas emagreceram a costelas vistas. O preço do leite, na entressafra, não dava nem para pagar a ração.
E quando a chuva apareceu, num dia de desesperança para o bom povo da roça, ela veio em rajadas fortes, alagando tudo ao derredor, tornando a estrada intransitável, uma lama viscosa fazia atolar as rodas do caminhão leiteiro, que ficava semanas inteiras sem aparecer no alto do morro.
O prejuízo foi incalculável. O leite azedou. Não restava outra opção a não ser fazer queijo. Só que não aparecia comprador.
Eis que chegou dezembro. Ao final do mês a chuva serenou.
Chico contabilizava os prejuízos. Foram enormes. Tantos que teve de vender a metade das vacas do curral. Justamente as melhores.
Com o dinheiro arrecadado Chico Bento sonhou com dias melhores. No entanto eles não vinham.
Desde o começo do ano, naquele fatídico dois mil e vinte, apenas noticias nada alvissareiras eram veiculadas pela mídia.
A tal pandemia punha o mundo inteiro em alvoroço. Desde que ela começou nada mais dava certo. A crise se instalou pelo país inteiro. Filas enormes se formavam a porta dos bancos. Os preços subiam às alturas. A violência dava as caras. Mortes, hospitais lotados, assaltos à mão armada, eram noticiados por todas as partes.
Sem tetos dormiam ao desabrigo. A fome se alastrava como erva daninha.
No entanto, contrariando as orientações, aglomerações eram vistas por toda a cidade. A maioria não usava máscara.
Durante o ano inteiro Chico Bento esperava o fim daquela situação de penúria sofrida. Não via hora de terminar a tal pandemia.
Foi quando foi anunciada a tal vacina. O Brasil tinha de esperar o próximo ano. Enquanto o mundo inteiro já estava se vacinando.
A segunda onda da pandemia se alastrava pelos países frios. Aqui, no hemisfério sul, o calor estava cada vez mais forte. Nem mesmo a chuva dava conta de amenizar a temperatura. Os hospitais continuavam lotados. Mais e mais vitimas eram enterradas em covas rasas.
Todo o segundo semestre foi passado em nuvens cinzentas.
A pandemia não dava sinais de controle. E o povo, ávido por ver terminar o ano, não via a hora de chegar janeiro.
Enfim o ano finou. Era tempo de júbilo para o mundo inteiro.
A vacina prometia tempos melhores. O comércio se regozijou.
Chico Bento, às vésperas do ano novo, na sua rocinha singela, orou pelo Deus em quem acreditava.
Aquele em verdade foi um ano trágico. Pra todo mundo. Não restavam dúvidas.
Dentro de sua fé, na sua crença, Chico, na sua retrospectiva, recheada de bons sentimentos, assim terminou seu testemunho.
“Por favor, meu bom Senhor. Pouco temos a celebrar neste ano que passou. Mas estou certo que o outro vai ser bem melhor’.
É o que espero. De coração a larga. A todos vocês. Meus irmão de fé.