Nada de chuva naquele começo de dezembro.
Céu azul. Sol a lamber a terra com sua língua amarela.
Fazia um calor de dar inveja a qualquer morador de Cuiabá.
A temperatura, à sombra, oscilava entre trinta e cinco e quarenta graus centigrados. Isso na melhor hora do dia. Por volta do meio dia o calor ia mais longe.
Dona Maria, com aquela gordurinha a mais, pobre senhora! Chegava a casa suando em bicas. E um banho morno não refrescava nadinha de nada.
Era quase dia de Natal. O sol, com sua amarelice que fazia arder os olhos, parecia sorrir dos pobres sertanejos. Gente acostumada aos rigores do clima. No entanto, naquele ano que se despedia, era mais inclemente ainda. A chuva não dava as caras desde o ano passado.
As reses morriam de inanição. A plantação de mandioca, o pão da terra, produzia alguns fiapos raquíticos. Que, uma vez retirados da terra areenta, mal davam para encher a panela.
A família de Francelino era composta de muitas bocas famintas. Contavam-se nos dedos, além da mulher, com quem se casou no ano passado, duas dúzias de crianças. Todas elas franzinas. Magricelas, lombriguentas, com jeito que não iriam resistir a mais um verão calorento.
Mesmo assim o estoico Francelino acordava ao nascer do dia. Olhava pro céu. Sonhava com a chuva. E nada de a tão esperada dar as caras. Nenhuminha nuvem no alto.
Passaram-se dias. O mês de dezembro quase se despedia.
Aquele ano de dois mil e vinte foi uma desgraceira só. Não bastasse a tal pandemia ainda por cima a seca se alastrava há tempos.
Aproximava-se o Natal. Os filhos de Francelino, bons meninos, oravam por um Papai Noel menos ingrato do que foi o ano passado. Debaixo daquele pinheirinho enfeitado nenhum presente foi lembrado.
Um deles, o mais novinho, orava para que a chuva caísse naquele dezembro ingrato. Mas a azulice do céu em nada contribuía para que a oração do menino tivesse um final feliz.
Enfim chegou a véspera do Natal. Naquele dia vinte e quatro para vinte e cinco caiu uma aguaceira de fazer correr a enxurrada.
Foi o melhor presente de Natal que a família já ganhou na vida inteira.
A ceia foi recheada de aipim. Com frango ao molho pardo.
Desde então a chuvarada não parou um dia sequer. A roça de milho foi às alturas. A produção de leite aumentou.
Dizem, nos arrabaldes, que o sertão virou mar. Um mar de água doce.
E a família de Francelino teve um Natal auspicioso. Bem melhor do que nos anos anteriores.
É o que desejo a vocês. Amigos, simpatizantes, desafetos. Um Natal onde renasça a esperança de dias melhores. Um Natal de muita paz. Onde abraços não faltem. Um Natal onde as famílias permaneçam unidas. Sem medo de se contaminarem.
E um ano novo livre da tal doença. Que o mundo inteiro possa sorrir novamente. Que a boa vontade predomine. Que a saúde impere. Que a chuva caia sem causar estragos,
Tudo de bom vai acontecer. Neste Natal que se avizinha.