Sempre acreditei no impossível.
Desde a chuva cair no deserto. Ou a seca se alastrar no campo ressequido.
Passaram-se anos. Cresci. Deixei de ser menino.
Antes, nos bons tempos da minha infância, acreditava no bom velhinho.
Aquele, na época de Natal, que se avizinha, aparecia em nossa casa. Vindo de longe. Trazido por um trenó puxado por renas aladas. Todas enfeitadas pelos mesmos enfeites natalinos.
Diziam os nossos pais que somente as crianças bem comportadas eram merecedoras de presentes. Mal sabíamos nós que seriam eles próprios os verdadeiros papais noéis.
Nunca desacreditei no bom velhinho.
Hoje, tempos passados, costumes mudados, prestes a chegar o dia de Natal acabei me transformando num Papai Noel diferente. Não tenho barbas nevadas. Muito menos sei fazer hoho. Nem a barriga obtusa. E muito menos adentro pela chaminé.
Agora tenho três netinhos lindos. Parece que vai terminar por aí a minha descendência. Adoraria ter uma menininha a puxar meus cabelos brancos.
Mas nem todos os desejos são concretizados.
Se eu pudesse pedir ao Papai Noel um presentinho que fosse, qual seria ele? Por certo não seria um caminhãozinho de bombeiro. Muito menos uma bicicletinha de rodinhas amarelas. Já tive uma. Acredito que o tal presente foi doado a alguma menininha que por acaso o tempo levou.
Já hoje, mais um ano inserido no meu calendário, já passei dos setenta, no dia sete assoprei mais uma velinha no meu bolo imaginário, não era bem isso que pensava que iria acontecer.
Estamos passando por momentos inoportunos. Sinto cheiro de uma crise imensa sem hora de terminar. A tal pandemia ainda assopra por todas as partes. Mortes são contabilizadas a cada instante. Jovens, idosos, pessoas que não fazem parte do grupo de risco, de repente são sepultadas. Hospitais lotados. Médicos em alerta constante. A tal vacina já esta sendo aplicada. Seria ela em verdade um alento aos nossos ressentimentos? Ou apenas e tão somente mais uma mentira de pernas curtas.
Não era bem isso que esperava. Em menino em verdade cria em Papai Noel.
Pena que os anos passaram. Meus pais se foram. Aquela casa onde cresci hoje está vazia.
O que era bom pouco durou. O Natal não é o mesmo. Nem mesmo o carnaval vai chegar com a mesma alegria de dantes.
Um ano novo nos espera. Dentro em pouco estaremos em dois mil e vinte e um.
Com ele espero tempos melhores. Que a tal doença seja em verdade contida. Que as mortes sedam lugar a novas vidas.
Desde cedo tinha esperança que um dia tudo vai melhorar.
O que tem acontecido me faz lastimar. Quantas famílias passando por dificuldades. Quantas crianças sem ter o que comer. Escolas vazias. Multidões se acotovelam pelas ruas. Aglomerações são vistas por todos os lados. Máscaras encobrem a nossa verdadeira identidade.
Não era bem isso que sonhava nos tempos idos. Pena que o tempo passa. Notícias nada alvissareiras são veiculadas pela mídia sedenta de sangue. Parece que só dá ibope coisas ruins.
Já hoje, anos passados, ainda creio no Papai Noel. Acredito na beleza das flores. No hálito puro da primavera que breve vai dar lugar ao verão.
Acredito em tempos melhores.
Quem sabe, no ano que vem, conseguiremos voltar aos velhos tempos. Apesar de ser um ano novo, como eram bons os velhos anos…