Hoje amanheceu uma linda manhã.
Céu parcialmente encoberto por uma neblina densa. Um dia nevoento. Agora o sol resolveu acordar.
De repente o tempo mudou. Será que vai chover, no decorrer do dia? Tudo indica que sim.
Nem sempre a gente se satisfaz com que a vida nos reserva. Num dia faz sol. A sensação de frio impera. Noutro a temperatura oscila entre o frio e o calor infernal.
Agora mesmo tive de abaixar as folhas da persiana. A luz do sol acaba de ofuscar a minha menina nos olhos. Ela, aquela menina, mostra-se sensível ao clarume intenso. Nem sempre foi assim. Nesta idade em que me encontro a visão muda segundo a claridade. Prefiro a luz do sol entrando de mansinho. Quando o momento enseja deixo que a claridade não perturbe tanto a minha inspiração. Ela se mostra tal e qual os peixinhos do meu aquário. Uns nadam devagarinho. Já outros, serelepinhos, mais parecem velocistas em busca de uma medalha olímpica.
Nem sempre fui avesso às condições climáticas. Antes, em menino ainda, amava caminhar pelas enxurradas da vida. Fazendo barquinhos de folhas de jornal. Que deslizavam mansamente até o fim do caminho. Fosse ele um rio. Ou até o mar segundo meus devaneios pueris.
Nem sempre sonhei como acontece nos dias de hoje. Eram sonhos de criança. Que acabaram se transformando em sonhos de gente velha. Que dorme pouco. Pois nem imagina o que vai ser o porvir.
Nem sempre fui um menino obediente. Aquele que obedecia cegamente os conselhos dos pais. De repente a vida me transformou. Agora meus netinhos fazem de mim gato de sapato. Amo folgar com eles. O mais novinho, de nome Dom, neste final de semana, fraturou os ossinhos do antebraço esquerdo. Fui o primeiro a inserir meu nome naquele gesso branquinho. Como um dia fizeram comigo. Num dia quando aconteceu algo semelhante ao garoto traquinas que era eu.
Antes dias chuvosos me incomodavam. Nem sempre foi assim. Já hoje, menino metamorfoseado em ancião, apesar de me considerar menino, no alto dos meus muitos anos, sinto como faz falta a chuva. Para enverdejar os ares do campo. Fazer a roça de milho crescer. Ver a pastaria enverdecer. As maritacas avoarem em bando pelos ares. As jabuticabas madurarem.
Nem sempre foi assim. Como a gente muda no decorrer dos anos. Anos passarinham. E nós somos levados por eles
Hoje, neste dezembro quase em sua metade, prestes fechar os olhos de mais um ano, quase Natal, acordei com um desejo insano.
Sou refém das sensações. Minhalma transborda de sentimentos. Num dia levanto em sobressalto. Noutro minhalma se aquieta.
E como gostaria de acordar sempre da mesma maneira. Transbordando de alegria. Assistindo o sol sorrir. Pena que nem sempre é assim.
É como se a felicidade me inundasse em gotas miúdas. Como se um riacho transparente descesse da serra me envolvendo com suas águas cristalinas.
Infelizmente, num dia acordo com o pé direito. Noutro o outro pé se levanta antes de mim.
Nem sempre é assim. Melhor. Imagine ter dias sempre iguais. O que movimenta a vida não são as pás dos moinhos de vento. E sim as transformações que acontecem dentro da gente.
Felizmente a vida é uma linda efeméride. Devemos cortejá-la sempre. Como um acontecimento único. E o nem sempre vai trazer boas lembranças. Mister se faz separar o joio do trigo. E viver como nos ensina quem saber viver.