O que dar a ela?

Presentes mudam com o passar dos anos.

Uma vez meninos a gente não via a hora de chegar o nosso aniversário.

O meu quase coincide com o dia de Natal.

Acontece, para que a minha felicidade se tornasse completa, no dia sete, e na véspera do final de ano, o bom velhinho, acreditava piamente na sua existência, ainda não sabia que ele era meu saudoso pai, recebia muitos presentes.

Na tenra infância, quando me mudei para esta cidade, a qual considero minha, embora seja nascido em Boa Esperanca, quando completei meus cinco aninhos sonhava com uma bicicletinha de rodinhas brancas. Ainda me lembro de quantos tombos levei. Até me desvencilhar daquelas rodinhas. Que serviam de muletas para aquele brinquedo lindo o qual não sei que fim levou.

A seguir, com o passarinhar dos anos, ganhei novos presentes.

Um lindo caminhãozinho de madeira, feito por um preso, foi outro regalo a mim presenteado no dia de Natal. Ele pouco durou. Acontece que, devido à madeira de baixa qualidade, ele acabou se esborrachando numa descida íngreme, que ia da minha casa ao Tiro de Guerra que ainda mora no mesmo lugar de antigamente.

O tempo passeava inclementemente.

O bom tempo de menino passou numa velocidade de cometa em direção à lua cheia.

Os presentes foram mudando ano a ano. Não mais era presenteado com os mesmos brinquedos. A bicicletinha de rodinhas brancas desapareceu das minhas memórias.

De criança me metamorfoseei em um jovem compenetrado.

Aos quinze anos, se não me falham as recordações, assim que me entendi por gente, embora ainda jovem, a mim mesmo presenteei com uma lambreta azul e branca. E como ela fazia sucesso com as mocinhas casadoiras. Naqueles verdes anos não era costume um quase garoto montar um veículo como aquele.

Era com ela que me dirigia à fazenda de um tio de sobrenome Abreu. Lindas primas de Varginha disputavam a minha garupa. Mas foi ela, nada mais que ela, que acabou vencendo a disputa.

Lembro-me de quando a conheci. Foi no rela do jardim. Depois da missa das nove e meia.

Era uma mocinha linda (ainda é até hoje). Da morenice de um jambo por madurar. Cabelos castanhos. De estatura mediana. Pernas lindas e morenas. Um tanto recatada.

Foi num passar de olhos que a pedi pra namorar. Ela morava numa casa de esquina. Bem perto do jardim principal de nossa querida Lavras.

Ainda me lembro da sisudez e da cara de poucos amigos de seu saudoso pai.

Num dia de carnaval, no mesmo clube de nossa cidade amada, do qual Seu Zé Lasmar era da diretoria, por ter bebido além da conta acabei vomitando na sua casa. Que vexame ter de limpar toda aquela imundice, com cheiro nauseabundo, daquele quarto, daquela casa hoje vazia.

Começamos o nosso romance, entre tapas e beijos, quanto contávamos com bem menos de vinte anos.

A nossa diferença de idade era bem pouca. Três anos nos separávamos. Uma vida inteira nos une.

Mais uma coincidência do destino em nós pede abrigo. Faço aniversário no dia sete deste mês. Ela, no dia de hoje.

Hoje acordei junto dela. Como há muitos anos atrás.

Pensei qual presente dar a ela.

A minha Rosa tem de tudo. A elegância de uma pequena grande mulher. A competência de uma modista perfeita. As mãos de fada na cozinha. Ela sabe fazer contas como ninguém mais.

Dar a ela, como presente, uma rosa flor, pra quê? Se ela já é uma flor mulher.

Uma roupa de grife? Se ela fabrica roupas com a perfeição de um maestro regendo uma orquestra. Um perfume se ela já cheira alecrim com canela.

Uma bicicletinha de rodinhas não me passa pela cabeça. Tenho medo de ela se desequilibrar. E cair não em meus braços.

A minha Rosa não sei qual presente ofertar.

Ela tem de tudo. Netos, são três. Filhos, um lindo casal. Marido talvez ela não reclame do que tem. Apesar dos meus defeitos tento fazê-los menores do que em realidade os são.

Hoje a minha rosa mulher completa mais um ano de vida. Menos três do que são os meus.

Dizem, as línguas de trapo, que ela mais se parece uma filha minha. Exagero, tanto assim.

É missão quase impossível escolher qual presente dar a minha amada mulher. A mesma que me acompanha quase uma vida inteira.

Já que as finanças não andam nada boas, a ela, a minha Rosa querida, neste ano que quase finda, nesta data, neste onze de dezembro, quase Natal, já que ainda não escolhi o presente, receba, deste marido por vezes inconsequente, o meu abraço apertado, o meu sorriso bem dado, e a certeza do meu amor sem fim…

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