Obrigado por mais um dia

O sol acordou junto a mim. Entre nuvens ele se mostra sorridente. Agora são precisamente seis e meia de outra manhã. O ontem se foi. Amanhã logo chega. Depois de outro amanhã tomara possa contemplá-lo, olhar pra trás, e pensar no que passou.

Afinal foram quase setenta anos de vida. Hoje conto com sessenta e nove. Um mês a mais.

Não tenho do que me queixar destes anos todos. Foram anos felizes.

Nasci num sete de dezembro. O ano foi um mil novecentos e quarenta e nove. Podem dizer que estou envelhecido. Mas não sinto nas costas o peso dos anos.

Felizmente tenho saúde para emprestar ou doar. Raramente me submeto a exames. Considero-os desnecessários para quem não tem qualquer incômodo. Faço exercícios com metódica frequência. Caminho sempre. Corro quando as tardes caem. Quando a noite chega durmo o necessário. Considero a noite um desperdício para quem já passou de certa idade. Acho que devemos aproveitar em sua totalidade a luz do dia. A escuridão das noites me intimida.

Durante todos os instantes da minha vida só tenho a agradecer. A clarividência com que ainda sou dotado. A saúde que ainda me sobra. A família que antecedeu a minha de agora. O passado tão feliz que desfrutei quando menino.

Olhando pela janela do meu consultório percebo o sol já me ofuscar os olhos. Nesta hora temprana o prédio ainda está vazio. Tomo o elevador sem que ninguém me acompanhe.

Acordar cedo sempre fez parte do meu viver. É nesta hora que a inspiração me assalta sem armas em punho. É sempre antes das oito que escrevo. Logo mais começo a atender a quem me procura. E só me resta agradecer aqueles que ainda confiam em mim.

Obrigado ao bom Deus pela vida que tenho levado. Foram anos e anos de trabalho que muito me tem gratificado. Espero, dentro da esperança que ainda guardo dentro de mim, continuar ainda por muito tempo a cuidar de outros.

Como sou grato pela família que me tem acompanhado desde quando nasci. Alguns já partiram rumo ao infinito. Outros ainda persistem por aqui.

Agradeço sempre, no chegar a noite, pela vida que tenho vivido. Pelo lar bem estruturado que tive a felicidade de conquistar. Muito obrigado ao Deus Pai, pela profissão que elegi. Através dela posso ainda tratar de pessoas que perderam a saúde. Tomara que ainda possa resgatar um resto de dignidade aos pobres enfermos, sejam eles oriundos do serviço público ou da clínica privada. Afinal todos nasceram com os mesmos direitos. Sejam ricos ou pobres. A dor que sentem tem a mesma intensidade. E nós médicos temos o dever de não faltar com a nossa responsabidade. Por isso fizemos um juramento nos bancos da faculdade.

Agradeço, de peito aberto, as manhãs tão lindas como a que despertou na manhã de hoje. Agora o sol me obriga a fechar as folhas da persiana. Na parte da tarde o calor se torna insuportável.

Daí a minha compulsão em escrever nestas horas madrugadas.

Agradeço, não me canso de reverenciar, a figura dos meus pais que me deram a vida. Ambos infelizmente não mais estão aqui. Sinto-lhes as presenças naquela rua, por onde passo todas as tardes. Aquela casa, de paredes caiadas pela saudade, é onde passei a infância.

Obrigado aos meus filhos por terem me dado netos. Através deles me rejuvenesço. Retrocedo no tempo. Finjo que ainda sou criança.

Agradeço, de coração aberto, a felicidade que percebi na face de meus filhos quando seus filhos nasceram. Bem sei que é uma tarefa árdua criar filhos nos dias de hoje. Agradeço se me permitirem repartir com eles um cadinho desta tarefa pesada.

Muito obrigado mesmo, não me canso de repetir, a todos que perdem tempo a ler meus textos. Eles são postados no Face. Para que possam degustar um pouquinho dos meus sentimentos.

Obrigado, de joelhos dobrados agradeço, pela vida plena que tenho vivido. Pelos anos que já passaram. Pelos outros que ainda me restam.

Não me canso de agradecer as manhãs tão lindas como esta que recém acordou. Oxalá outras manhãs sejam da mesma maneira redundantes em luz e alegria. Como também agradeço a capacidade que ainda tenho de escrever todos os dias. O cotidiano é assaz rico. Seria uma irresponsabilidade minha não retratá-lo todos os dias.

Tantas coisas tenho a agradecer, tantos dias e noites, que, se ficasse aqui, enumerando todas, passaria o dia inteiro enchendo folhas e mais folhas de papel.

Agora o relógio marca sete e meia. Logo mais deixo o computador descansar. Para amanhã, a hora de sempre, recomeçar tudo de novo.

Logo mais, a noite, antes de fechar os olhos, mais uma vez agradeço, todas as graças recebidas. Oro por aqueles que sofrem no leito de algum hospital. Que recuperam a saúde. Peço para meus netos sejam felizes como eu tento ser. Assim como outras crianças cresçam não só em estatura. Mas tenham a sorte de conseguirem seus intentos.

Obrigado, Senhor, por mais um dia. Que se sigam outros. Tão o mais felizes como tem sido minha existência.

Deixe uma resposta