Castração coletiva

A procura por vasectomia tem sido modesta nos dias de agora.  Na rede pública talvez existam mais interessados do que nas clínicas particulares, devido à crise cruel que assola nosso país. Mutirões deveriam existir. Aos montes. Desde que os profissionais envolvidos sejam em verdade motivados. Pagos a preços justos por tal procedimento singelo. Bastam cerca de dez minutos, uma pequena incisão na bolsa escrotal, ligam-se dos dois lados os canais deferentes, seccionam –se cada segmento, e, a partir de cinco ejaculações ou um período de tempo não inferior a dois meses para comprovar, via espermograma, a esterilidade final. Falhas existem. Recanalizações espontâneas podem acontecer. Medicina não é ciência exata. Números não fazem parte dessa difícil arte. Apenas na hora de mandar a conta ao paciente.

Já a castração não deve ser confundida com a vasectomia. Aí os testículos são retirados. Só restando a cápsula quando se deseja conservar o conteúdo, não existindo infecção correlata. Existem sóbrias indicações para a castração total. No caso de câncer de próstata avançado. Para se suprimir a produção de testosterona. Ou para se retirar o órgão enfermo. Já que um verdadeiro abscesso se formou. Podendo ter consequências graves ao portador das orquites bacterianas. Levando a sepses fatais.

Bem entendido a distinção entre uma e outra, para não trazer confusão, quando me lembrei de escrever sobre o assunto tema do título acima, foi pensando em coisas e loisas de nosso cotidiano.

Ontem foram marcadas duas consultas. Não me lembro se conveniadas ou não. Os dois pacientes não compareceram. Simplesmente se fizeram ausentes. Sem aviso prévio. Uma ligação telefônica tão simplesmente explicando que não iriam comparecer. Por qualquer motivo. Eles tomaram a vaga de outros. Que talvez estivessem mais doentes que os ausentes.

Uma vez na unidade de saúde distante de onde estou, num ambulatório de atendimento chamado AME Zona Norte, alguns pacientes em condições de vir ao consultório privado ali estavam. Em carros modernos, conquanto eu vá de ônibus circular.

Muitos, grande parte, eram oriundos de clínicas privadas. Eles pagaram a consulta a outros colegas. E no AME me procuraram por ser graciosa a consulta. Simplesmente para ouvir uma segunda ou terceira opinião. Concordo que a saúde é dever do Estado e direito do cidadão. Direito que lhes assiste. Mas, ocupar a vaga de quem não pode pagar a consulta, é licito ou não? Nunca seria demais recordar que a lista de espera se alonga além daquela serra alta que daqui se avista. E muitos pobres não podem esperar.

Outro comentário que gostaria de deixar escrito é que a maioria dos pacientes não sabe qual a razão da sua vinda a mim. E a outros mais que ali batem ponto. Fazem uma confusão enorme entre hemorroida e doença da próstata. Entre urologia e proctologia.  Mal sabem eles que as doenças ano retais são da competência da proctologia. Conquanto as das vias urinárias e genitais pertencem a urologia. Nada mais, nada menos. Já cansei de tentar explicar, qual é um, qual é a demais.

Depois de longa vivência pelos descaminhos da medicina, afinal são mais de quarenta anos de formado, já tendo participado de mutirões de vasectomia, de castrações incontáveis, sejam devidas ao câncer de próstata, ou a infecções incontroláveis, ao reviver tantos e tantos casos não alvissareiros, de constatar tantas agressões verbais a colegas esculápios, eu mesmo já fui testemunha ocular de meus problemas, foi que me passou pelas ideias a tal castração coletiva. Geral.

Que tal?

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