Talvez devido ao vento frio, céu cinzento, hoje acordei com as cores cinzentas do inverno.
A noite foi razoavelmente acolhedora. O dia de ontem cheio de trabalho, de alegria por estar com meu neto na parte final da tarde, noite, e quase as dez horas, quando tive o privilégio de ir com ele ao posto de saúde onde trabalho as segundas e terças feiras. O danadinho chorou pouco ao se deixar picar por agulhas finas ao tomar vacinas várias. Hoje, terça feira, vinte e quatro de outubro, tenho a manhã mais folgada. Aproveito para levar uma encomenda aos telhadeiros, dois especialistas que dão os arremates finais no telhado da minha casa da roça pertinho de Ijaci. E como ela está ficando linda! Do jeito com que sempre sonhei. Desde quando na terra coberta por um capim nativo fiz rasgos com uma máquina que lambe estradas com sua pá que levanta e abaixa. Nos dias que nos olham com ares frescos a construção vai completar um ano inteiro. Consumindo grande parte de uma poupança modesta e quase por inteiro meus ganhos mensais. Mas tudo vale a pena, se a alma não se apequena. Mais ou menos assim que deixou-nos o grande poeta português Fernando Pessoa.
Acredito, se o projeto dos meus planos para a metade do dia de hoje não forem ludibriados, estarei de volta à cidade antes da hora do almoço.
Fazem dois dias que não recebo whatsaps de um amigo bem caro. Pedro Coimbra anda silencioso. Não da notícias desde inexatos dois dias. Se tanto. Sinto-lhe a falta. Assim que retornar da roça vou fazer-lhe uma visita. Não de médico e sim de amigo.
Talvez seja este um dos motivos para ter acordado no dia de hoje com um que de angústia a me martelar por dentro. Algo indecifravelmente triste. Estou sonolento, acabrunhado, o que me faz ficar em contraste com a alegria equivalente a ,mesma ao ter o Theo nos braços no dia de ontem. Sinto falta de ser criança de novo. Como sei que tal fato é impossível, ao brincar com ele, meu neto, é como se uma lufada de ar fresco adentrasse pela janela. Tornando o ar mais respirável. A vida mais leve. A alegria voltar, nas asas velozes da juventude.
Hoje em verdade não me sinto confortável. Poder-se-ia dizer que estou triste. Por algum motivo não palpável. Pois, de acordo com tudo ao derredor, meus projetos de mais dois livros novos, de quase por fim a obra na roça, deveriam ser razões de sobra para me alegrar.
Agora, perto das oito da manhã, o sol sorri do lado de fora da janela do meu consultório. Daqui se avistam dois locais díspares. O primeiro, a Rua Costa Pereira, onde se pode ver parte do meu passado. Logo adiante, mais perto, o prédio onde meu neto mora. Perto de onde deixei estacionada minha caminhoneta Estrada, veículo quase nunca usado. Sempre parado defronte a minha casa.
As nuvens de cinzentas se transformaram em nuvens brancas. Parece que não vai chover. Pelo menos na parte da manhã desta terça-feira, vinte e quatro de outubro.
Estamos vivenciando a primavera. Logo entra, em seu espaço, o verão. Logo sai este ano e entra um ano novo. Dois mil e dezoito quase se nos mostra por inteiro. E eu, quando ali, me torno mais janeiros.
Do lado de fora da minha janela bafeja o ar amistoso e ensolarado de mais um dia de primavera. Conquanto, aqui dentro, ao revés de o sol entrar, sinto no âmago a amargura melancólica do inverno. Sem saber por quê. Ou em razão de que.