Antes de falar em bem viver. Aproveitando a deixa inspirada do meu amigo poeta. Que deixou escrita essa pérola. Que bem retrata a antítese da vida; qual seja morrer.
Lucas Giarolla assim se expressou: “Finitum. Se eu morrer, que seja num domingo. Para não sujar de angústias um dia são. Se eu morrer, que seja tênue como uma vela gasta. Que lentamente se esvai ao sol do meio dia. Se eu morrer, possa eu transformar. Atuais certezas em condições futuras… Se eu morrer, que seja eterno. Para me esquivar de vez das águas cegas do tempo… Pondo um ponto final no lugar de dolorosas reticências. Se eu morrer, que o instante derradeiro. Tenha a mesma intensidade insana do primeiro. Unindo assim opostos extremos num apertado nó! Para que assim, diante do fato insólito da extinção. Possa eu sentir pulsando bem perto do fim. O fio áspero e ambíguo onde tudo começou. Se eu morrer. É claro”…
Ai, eu contra ataquei: “eu queria morrer poetando assim”.
“E ele me respondeu: “já o fazes meu amigo. Pare a medicina se quiseres, mas não se aposente nunca das letras e dos sentimentos maiores, pois inspiras muitos e muito sempre”.
Naquela hora não tive como responder a ele tal a emoção que tomou conta de mim.
Mas quem sou eu, com minha prosa insossa, a fazer frente ao lirismo dos seus versos?
Conviver com um poeta como você, Lucas, se torna mais fácil do que viver rodeado de estrelas.
Somos vizinhos de consultório. Embora poucas vezes nos vemos revemo-nos em mensagens como essas.
Escrevo para ser lido. Não para deixar meus textos ao desalento.
Ter você como participe dos meus sentimentos em muito me enobrece. Serves como combustível para continuar a escrever sempre.
Em verdade é bastante complexa a vida a dois. Por vezes não falamos a mesma língua. E muito menos compartimos os mesmos sentimentos.
Moramos na mesma casa. E mal sentimos a presença um do outro.
Assentamo-nos a mesma mesa. Repartimos a mesma comida. Cada um no seu assento. Numa mudez ensurdecedora.
Acordamos cada um em horas díspares. Um de nós fica na cama até no mais tardar das horas.
E vamos embora sem ao menos um até logo ou um afetuoso abraço.
Somos um casal sem nenhum elo de ligação. Poder-se-ia dizer estranhos no ninho.
Assim que os filhotes partem sentimos mais ainda o ninho vazio.
Envelhecemos. Anos se sucedem. O que era doce azedou. Mal nos suportamos. Evitamos diálogos para que eles não se transformem em agressões mútuas.
Sobrevém enfermidades. Muitos mal podem pagar um bom plano de saúde.
As desavenças imperam. Cada um no seu corner que mais parece um ringue de Box.
Conviver não é fácil. Tolerar defeitos se torna quase missão impossível.
A partir de certa idade pensamos. Vale a pena uma separação? Não seria tarde demais para se pensar em deixar aquela casa, construída a duras penas. Catando pregos no intervalo de nosso trabalho. Numa tentativa inglória de abreviar o tempo da construção que consumiu todas as nossas economias. Mais um financiamento a longo prazo que ainda não terminamos de pagar?
Ai, nessa altura do campeonato. Ainda sem vencidos e vencedores. Vale de fato e de direito jogar tudo pelos ares. Passarmos a morar num hotel. Vendo tudo que edificamos ser desfrutado por outrem. Que nada fez e apenas vai desfazer de nosso parco patrimônio.
É extremamente fácil conviver com quem comunga os nossos gostos. Aprecia o que apreciamos.
Não faz pouco caso das coisas que conquistamos a duras penas. E não tenta pelo menos dizer. Àquela hora em que deixamos nossa casa: “como foi prazeroso repartir a nossa cama com você”.
Amigo de crenças e sentimentos Lucas, o poeta de sobre Giarolla.
Como seria apetitoso se em todos os lares a convivência fosse tão fraterna como a nossa.
Pois falamos o mesmo idioma da sensibilidade e da boa prosa ou da poesia que abunda em nosso âmago.