Quem ainda, olhando pro alto, ao ver a azulice do céu, ou mesmo cinzento como se mostrou no dia de hoje, deve vir chuva mais tarde, pensando naqueles que lhes foram caros, pais, mães, filhos desaparecidos deixando em seus rastros saudades tantas, não sonhou, nem que tenha sido por horas apenas, para lá se mudar, não com as malas cheias de vestimentas, e sim apenas com o corpo desnudo, da mesma forma que veio ao mundo?
O que nos faz declinar do desejo de ir para o céu antes que alguém do alto nos convoque é o desconhecimento do que lá vai encontrar. Se trevas apenas, um azul como nos dias ensolarados, ou de uma negritude urubulesca, aves não agourentas as quais admiro por seu papel de suma importância que exercem entre nós como garis da natureza, comendo carnes pútridas de onde exala mau cheiro, para nós, seres humanos, desumanos somos muitos, causam asco e mau odor.
Assim ir ao céu antes da morte, já que essa aventura ainda não foi possível ao homem, apenas nossas naves espaciais partem rumo ao espaço sideral, a lua fomos várias vezes, em outros planetas deixamos nossas marcas não com nossos pés e sim com câmaras que monitoram coisas e loisas de lá, creio que jamais observaram formas compatíveis com homens morando em qualquer um de nossos irmãos. Se forem não nos foram passadas fotografias ou indícios confiáveis de que seres semelhantes a nós ali estão. E guardaram o segredo num baú profundo, como profundo foi o amor que senti por meus pais.
Árvores, arbustozinhos, de qualquer natureza ou descaminho, ciprestes ou pinheirinhos nanicos, depois de plantados a terra, em covas profundas ou rasas, adubados para que eles fossem, devagar, crescendo, não a velocidade compatível a nossa visão desarmada, atingem alturas variáveis.
Uns vão a metros tantos que quando os avistamos precisamos olhar bem alto, muitos têm torcicolo, outros precisam subir em patamares bem altos, para observar-lhe o píncaro, a copa na cumeeira das suas máximas alturas.
Na casa onde moro, creio a bem mais de uns quase vinte anos, se tanto, a sua frente, num jardim bem pequeno e da mesma forma bem cuidado, onde existem gramas de tons escuros, arbustozinhos de um verde revivido, três plantas bem verdes de onde eclodem florzinhas brancas e perfumadas, e um enorme cipreste, seria pinheiro?, não vou ao Google para estudar-lhe o nome verdadeiro, para mim basta ver o quando ele é verde e gracioso, e como tem crescido alto!
Aos poucos mais de quinze anos o tal cipreste alcançou a altura de mais de dez metros. E ele é bem jovem, em comparação a minha idade, sessenta e sete.
Minha altura não passa de metro e setenta. Talvez tenha encolhido de uns tempos pra cá. Embora meu cérebro talvez possa ter espichado em células neuronais. Quiçá?
Hoje, agosto quase em seu fim, ao deixar a casa perto das sete, parei um cadinho para ver, bem de perto, o tal pinheirinho gigantesco. Ele ultrapassava em mais de cinco metros o telhado da casa onde moro. Junto a minha Rosa, não flor, e sim uma grande mulher.
Não pude conversar com o enorme pinheirinho, por mais que tentasse.
Enquanto eu, palrador, a ele perguntava quantos metros ele vai ainda espichar, o mesmo, monossilábico, apenas agitava, ao sabor do vento, com suas folhas duras e bem verdes, num palrar silencioso, ininteligível, para mim entendi que o pinheirinho pretendia alcançar o céu.
O pinus já media mais de vinte metros. Pela idade que contava no dia de hoje, menos da idade da casa, pelas contas nas quais me confundo, o pinheirinho iria a muitos e muitos metros adiante, em sua caminhada rumo ao céu.
Fiquei mais de dez minutos observando-lhe a escalada. A impressão que ele me passava era que seu crescimento fingira-se de mudo. Pois não dava para acompanhar, passo a compasso, cada milímetro que seu tronco espinhoso crescia.
Após quase meia hora de deslumbramento, meu pescoço curto sofria, olhando pra cima, foi quando tive a impressão de que o pinheirinho enorme havia alcançado a cumeeira do céu.
Acreditem se quiserem. Meus pais batiam palmas de alegria ao ver aquela árvore gigantesca, plantada por mim, cuidada pelo mesmo eu, chegar até eles.
Com certeza, mesmo que não possa comprovar, pois ainda não cheguei lá, meus queridos pais cuidam do pinheirinho gigante, com o mesmo amor de quando eu o inseri a terra do meu jardim.
O pinheirinho, que se tornou um pinheirão, enfim conseguiu abraçar o céu. E foi logo abraçado por meus pais, que de lá oram por mim. Abraçando-me, como o pinheiro conseguiu abraçar o céu, afinal, mesmo que eu ainda não tenha chegado à azulice do firmamento celestial.