Nada sabia sobre o filósofo prussiano, nascido no século dezenove, na atual Alemanha, em quinze de outubro de 1844, na pequena cidade de Rocken, até o dia de hoje, vinte de agosto, quando vi, numa lápide, em Camargos, uma inscrição que dizia: “há cães que nascem póstumos”. Ela se referia a um cão, da raça Labrador, extremamente educado, olhava-nos com olhos inquiridores, de lado, como a suplicar que lhe déssemos um naco de carne, recém-deixada no prato depois de um churrasco assado por meu filho Stenio.
A partir de então fui ao pai dos burros modernos, não se trata mais da enciclopédia, e sim o senhor Google, em busca de mais dados sobre o notável filósofo, músico, um tanto recluso, poder-se-ia dizer ermitão, amigo de tantos artistas que deixaram seus nomes à posteridade, a exemplo de Wagner, Kierkegaard, e outros gênios notáveis, a maior parte só lhes revelada a genialidade após o falecimento.
Entre outras frases as quais gostaria que fossem minhas ele deixou estas: “há homens que nascem póstumos. Odeio quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecerem a verdadeira companhia. O casamento põe fim a uma porção de outras curtas asneiras- e começo de uma longa estupidez. Nenhum vitorioso acredita no acaso. A crueldade é um dos prazeres mais antigos da espécie humana. Nada vos pertencem mais do que os sonhos vossos. O que não me mata me fortalece. Também os vencedores são vencidos pela vitória. Todos os seres humanos querem ser mimados e que se tenha pena deles. A fórmula para minha felicidade: um Sim, um Não, uma linha reta e uma meta. É preciso ter o caos em si mesmo para ser capaz de dar à luz a uma estrela dançante. Falar muito de si próprio da mesma forma pode ser um meio para se ocultar. Não existem fatos e sim interpretações. Tudo que é reto mente. Toda a verdade é sinuosa, o próprio tempo é um círculo”. E outras mais.
Autor de Assim Falava Zaratustra, Além do Bem e do Mal, Anticristo, A Gaia Ciência e tantos outros. Não passarinhei os olhos em nenhum deles, pois, de tempos pra cá, acostumei-me a ler Paulo Rodarte, e não há como dele me desacostumar.
A vida de Friedrich Nietsche foi tão vigorosa quanto sua filosofia, não vã. Passou de gênio a louco. Um eremita que sofreu várias críticas dos estudiosos do seu tempo. Segundo o grande amigo Wagner ele foi um mar de provocações e inventividade. Sua obra de ensaio foi nomeada de Nascimento da Tragédia.
Passou dias num sanatório da Basiléia a seguir transferido para Jena. Aos cinquenta e cinco anos morreu na residência de sua irmã. Causa mortis atribuída a pneumonia e crise nervosa. Na localidade de Rocken, antiga Alemanha.
Freud, Michelangelo, Da Vinci, Proust, Einstein, entre tantos foram considerados insanos. Adoráveis e notabilíssimos loucos. O limite entre um e outro é tão fino quanto o fio da agulha. Impossível determinar-lhes a linha limítrofe.
Por qual motivo Nietsche teria dito? : “há homens que nascem póstumos”?
Seria pela razão de achá-los mortos ao nascer? Mais um natimorto? Entre tantos que nascem em nosso país continente? Um cadaverzinho diminuto num caixãozinho nanico? Como aquele no qual sepultei o bebê Claudinei, o filhotinho de apenas dois anos filho do meu amigo Custódio Notícia Ruim? Na comunidade de Ijaci?
Ou seria, pensando como Nietsche, ou outros filósofos meio loucos, a exemplo de Proust, Kierkegaard e tantos demais, demais mesmo, notáveis insanos ditos loucos, seriam eles, ou eu, homens adiante dos seus tempos? Vanguardistas lunáticos, excêntricos, outras adjetivações mais sonoras, que existiram e ainda existem pelos quatro cantos do planeta? Por aí afora e adentro. Adentrando as mentes de pouco brilho dos ditos normais.
Sem falsa modéstia, embora Nietsche tenha deixado como legado, que: “falar muito de si pode ser um meio de se ocultar”, como cronista uso e abuso da primeira pessoa do singular. Singular que sou. E não abro mão de ser assim.
Há homens que nascem póstumos. Seria eu?