Já passaram os anos quando aquela festa, dita profana, principalmente quando o que se via nas ruas não retratava o imenso derrière da linda moça, mais tarde se provou impura, e sim a compostura da beata que não tirava os joelhos do piso da igreja, rezadeira de terço cheio, aqueles saudosos carnavais que em nada se pareciam aos bacanais de Sodoma e Gomorra, onde gente comportada, mascarada sem exageros, pulava a noite inteira cheirando o odor inebriante do lança-perfume, bebericando Cuba Libre, no máximo uma dosezinha de um uísque mata-rato, mais barato que se encontrava, quando alguém passava mal vomitava no pobre banheiro do clube que ainda hoje me encanta, cheirando pior que as podriqueiras da corruptela nacional, tomara um dia todos os indiciados, provados culpados, vão parar no xilindró, e joguem a chave fora do alcance dos bons advogados, portas de cadeia, e dos julgadores venais, eles existem a enxovalhar a classe dos togados, dos promotores levianos que ainda frequentam, e tiram o brilho vagalúmico dos seus colegas lídimos, que nostalgia sinto por dentro daqueles carnavais de outrora. Em boa hora uma linda menina, moreninha faceira, minha companheira de jornal (Agora Notícias), em sua edição de março do corrente, com uma linda prosa poética estampada próxima a minha no jornal do amigo jornalista Ricardo Godoi, que levou o nome de: “O ser humano não é uma máquina”.
O artigo começa assim: “Eu tenho fé no ser humano. Tenho fé de que as máscaras caiam e de que se toquem que a vida, infelizmente não é uma festa. Tenho fé, de que as máscaras serão trocadas por óculos e, então, enxergarão além dos confetes. Verão, então, as senhoras e as crianças catando as latas de cerveja para poder comer um pedaço de pão. Tenho fé de que um dia, após a folia, eles voltarão naquela mesma rua, onde avistaram um morador de lá, e pelo menos um abraço de criança lhe dará ou terão uma conversa, talvez… Eu tenho fé de que a fantasia de rico verde e amarela será guardada no armário e de que não ficarão quietos diante de tanta corrupção. Eu tenho fé de que os carros alegóricos serão substituídos por ambulâncias e viaturas, e de que a cidade será campeã em segurança e saúde. Eu tenho fé que desfilaremos junto a outras cidades, outros países, com nossa fantasia de união, e mostraremos quanto bem faremos um ao outro. Tenho fé que as crianças, as mulheres, os gays, poderão sair às ruas e dançar e cantar marchinhas de carnaval, sem medo, porque não teremos mais estupradores, nem homofobia, teremos união e muito amor! Eu tenho fé no ser humano, porque nós não somos máquinas, tenho fé que ainda sabemos amar, e amaremos. Sabemos aceitar, e aceitamos. Talvez eu tenha perdido a minha cabeça. Onde já se viu sonhar tão alto aqui no Brasil? Talvez minha mente não esteja por aqui. Eles não amam um doente terminal. Talvez tornou-se muito errado sonhar por aqui, não! Espera, não é errado sonhar, poupe meus versos, eu tenho fé nisso tudo aqui sim! Por que quer tirá-la de mim? Porque eu sou o contrário de tudo que você citou, e a pessoa que você conseguiu alcançar com essa ladainha, eu diminuirei). Ana Luiza Messias, 15 sonhadores aninhos de inocência pueril.
O tempo todo ela falou de carnaval. Eu comecei meu texto falando dele, e nele.
A querida Ana Luiza, linda menina, cuja foto está estampada na página do tal jornal, aos quinze anos já sabe quase tudo sobre a ressaca do carnaval, o day after da folia momesca, muito embora não tenha participado, jovenzinha que é, dos carnavais de hoje. Cidade imunda, corpos embriagados deitados pelas ruas, um cheiro nauseabundo de bebida, misturado ao ocre odor de urina, às vezes fezes recentes, despejadas pelas esquinas, como se elas fossem latrinas; lixo, coisa podre, gente que vai demorar voltar à rotina, causando mais prejuízo ao já combalido estado atual do país onde vivemos.
Nada contra o carnaval. Creio até que a pequena Ana Luiza também não tenha.
Ela diz ter fé. Eu, que bem poderia ser seu avô, tenho idem um cadinho de fé. Não na festa momesca em si. Muito menos de que o povo unido não vai ser vencido.
Ela, em seu lindo poema em forma de prosa, diz ter fé no dia quando os carros alegóricos, com suas exuberâncias estapafúrdias e custosas, cedam lugar a mais recursos para a saúde e a educação. E em viaturas para bem equipar a polícia, não em camburões para levar presos aos postos de saúde, onde a saúde está enferma, que o digam os ambulatórios de fachada linda, de nome pomposos, os quais são meros triagistas dos pacientes que perambulam de del em del. Sem conseguir sanar as suas dores, muito menos operar as suas doenças de natureza cirúrgica, desde uma fimose entupida, a um cálculo renal complexo.
A linda e inspirada poetisa de nome Ana Luiza sonha em pôr um ponto final na corrupção nacional. Como se possível fosse matar tantos e tantos ratos com uma vassourada só.
Por fim, ainda sobre o mesmo tema, sem fazer poema, já apreciei mais o carnaval. Como passei a apreciar a linda escritora morena, jovenzinha ainda, de nome Ana Luiza, que junto a mim escreveu, no mesmo jornal, ali deixou seu testamento sincero, o qual transcrevi sem o seu aval.
Mais uma vez, nada contra o carnaval. Apenas manifesto meu do contra ao carnaval da bandidagem que assola o país do carnaval e do futebol. Como se fossem as coisas mais importantes de onde nasce o sol, a lua descansa, as estrelas iluminam, e nós, meio mortos, tontos, pouco observadores, não sabemos o que presta e o que não, aqui, neste país lindo, mais uma vez, me perdoem os que apreciam o carnaval.