Não mais tenho a sua imagem no meu celular. Ela se foi, como a vontade de voltar a vê-la esvaiu-se como a poeira no ar seco desse mês de dezembro frio, quando em viagem a Portugal.
Procurei, entre tantas fotografias armazenadas na memória cansada do meu i-phone, qualquer vulto que se parecesse a ela. Nada, mais que nada, foi o resultado da minha busca infrutífera.
Agora, sem esperanças de voltar a ver tanto a foto quanto a pessoa, feminina nos gestos e sorriso tímido, volto as minhas lembranças à primeira vez em que a vi.
Foi no hotel, onde passei os primeiros dias da minha visita à terra de onde viemos, grande parte dos brasileiros, durante o café da manhã, quando me deparei com sua figura esguia, não alta ao exagero, não de corpo sinuoso como das outras garotas portuguesas, as Alfacinhas, nome dado a quem vive na capital, muito menos de olhos claros como a borboleta azul, nem ao menos dotada de beleza irradiante, mas de uma simpatia que saltava aos olhos de tão linda que se mostrava à primeira passada de olhos.
As outras colegas de trabalho do hotel Turim eram escuras, a maior parte delas. Ou eram nascidas emigrantes de Moçambique, Angola, ou de uma ilhota, ex- colônia de Portugal, de nome São Paulo, ou ilha do Funchal, ou da Guiné Bissau.
Ela era, e ainda o é, branquinha como um monte de sal. Naqueles tanques de onde nasce o sal, bem nas barbas do mar.
Agora me recordei à exatidão.
Não foi durante o desjejum de alta qualidade, servido no Hotel Turim.
Foi ao sair do apartamento na primeira vez em que estive ali.
A linda moça, cuidadora do meu quarto, vestia uniforme azul marinho.
Dada à pressa que me consumia tive alguns minutos a sós com ela. Foi a primeira e a segunda e a derradeira vez que nela finquei os olhos. Foi o bastante para não me esquecer de Michaela.
Ela é romena. Uma das tantas empregadas naquele hotel simpático, e ótima localização, região central de Lisboa, de onde começamos nosso périplo de duas semanas por Portugal.
Naqueles instantes mágicos, quando tive Michaela ao meu lado, do lado de fora do quarto, ainda me passeiam pelas lembranças algumas palavras em romeno que ela me ensinou, e anotei sofregamente num pedaço de papel que me fugiu ao esquecimento aonde ele foi guardado.
Foram estas as expressões: “eu te amo – Te u iubesc. Qual o seu nome? – care e numele tau.
Onde você mora? – In carel in care locuiti? Você gosta de mim? – Iti place de mine?
E por fim : “Eu quero você pra mim – Vreausa mi.
Paramos por aí.
Naquela noite não tirei a romena Michaela dos pensamentos. Era uma mistura de surpresa e encantamento. Quem seria em verdade Michaela? Uma forasteira, desempregada, que fugiu numa noite escura de uma Romênia sem perspectiva de ser feliz? Teria deixado em sua pátria um amor desesperado? Ou simplesmente, na Lisboa antiga, cidade linda visitada pela segunda vez, Michaela reencontrou outro verdadeiro amor?
Acordei depois de uma noite indormida. Fazia calor dentro do quarto amplo. De véspera pedi na portaria que regulassem a temperatura do ar condicionado para pelo menos dezoito graus, no mínimo.
No dia seguinte era folga de Michaela. Foi que o que disse o amável e brincalhão porteiro do dia.
Nos dias subsequentes fui fazer turismo em outras paragens. Passei pela cidade do Porto, pela linda Sintra, pelo Santuário de Fátima, dei de olhos em Cascais e Estoril. Fiz uma breve incursão por Coimbra dos leitões famosos. Degustei o melhor bacalhau a um preço mais que favorável, depois de uma curta viagem de barco, numa ilhota de nome Casilas, bem pertinho de Lisboa.
Voltei a Lisboa, pois a volta ao Brasil se daria no dia seguinte, de novo ao mesmo hotel da vez anterior.
Logo na portaria quem me atendeu foi um senhor de mais idade. Não o da vez passada. Dias passados perto.
Logo o inquiri sobre o paradeiro de Michaela.
Ele fez que não a conhecesse. Indaguei a um terceiro. Dele tive a mesma resposta oca.
Fui ao restaurante do café da manha. As colegas de Michaela emudeceram sobre seu paradeiro. As camareiras nada sabiam sobre a romena.
Cansado da viagem, de tantos percalços tantos, já com as malas prontas, temendo o excesso de bagagem, pedi um taxi.
Minutos depois apareceu o motorista. De nacionalidade romena.
Com que sofreguidão perguntei-o, imagine a minha ansiedade, se ele conhecia a linda Michaela.
Já a caminho do aeroporto internacional de Lisboa, com certa folga de horas, o jovem condutor do taxi, claro, de feições femininas, embora fosse por certo macho, mudou o tom de voz ao falar de Michaela.
Ela era e continua a ser o seu único e maior amor. Pela qual deixou tudo em Bucareste, nunca mais a encontrando.
Ao voltar ao país de onde vim, a imagem da linda Michaela continua a martelar-me as ideias.
Teria sido um sonho? Ou simplesmente a bela Michaela não era nada mais, nada menos, que uma das minhas ilusões perdidas na vertiginosa missão da minha vida.
Que era ficcionar o real, dando-lhe as cores lindas de que são compostas o arco-íris.
A partir de então nunca mais pensei em Michaela. Teria sido um fim? Ou o recomeço do fim? Até agora me encontro na mais completa ignorância.
This should end well, to;02#82&:oThe extra yield investors demand to own corporate bonds rather than government debt was unchanged yesterday at 154 basis points, or 1.54 percentage points, the narrowest since November 2007, the Bank of America Merrill Lynch Global Broad Market Corporate Index shows. High-yield debt returned a record 57.5 percent in 2009, and another 4.3 percent this year, according to the Bank of America index data.”