Quase- uma palavrinha que enseja pouca coisa, bem perto, a pouca distância, mais ou menos, por um triz.
Quase me perdi de você. Mas acabei por encontrá-lo. Quase desisti do meu intento. Mas perseverei e consegui aquilo que desejava. Quase perdi de vista o horizonte infinito. Mas alcancei-o com minhas mãos sem saber quão longe era. Quase fui a sua casa. Mas no meio do caminho retornei. Quase perdi minha vida naquele trágico acidente. Mas salvei-me por um triz.
Quantos quases tive pelo caminho. E esses quases acabaram por me salvar.
Por um triz não fui pego de frente por aquele caminhão desgovernado. Salvei-me por um lapso de tempo. E quase fui pilhado em fragrante por ter admirado aquele traseiro empinado daquela linda mocinha da academia. Por sorte desviei meus olhos no momento certo. Já que minha esposa estava a minha procura.
Quantas e quantas vezes tive a vida por um fio. Não por um fio de luz. E sim por quase ver terminados meus dias aqui na terra.
Como de costume evito andar de carro. Como o trânsito anda maluco nesses tempos hodiernos. E cada buzinaço que maltrata os meus ouvidos. Cada um atropelando distâncias. Tentando chegar ao fim do dia em suas casas. Mas os engarrafamentos nos tolhem o movimento. As ruas apinhadas de carros nos fazem pensar no bucolismo das roças onde carros de bois, pachorrentamente, zunem por estradas poeirentas sem pressa de chegar ao seu destino.
Pernas são feitas para trabalhar. Se não as usamos elas enferrujam. Claudicam como as mentes em desuso. Use e abuse delas até quando a idade lhe permita.
E assim que tenho sobrevivido. Vivo usando as pernas. Graças a elas estou de bem comigo.
Tiro o carro da garagem só nem extrema necessidade. Embora minha idade me aconselhe a ser mais prudente deixo a velhice de lado e procuro a mocidade. Ando a pé. Gasto solas de tênis. Distâncias não me intimidam. Já corri léguas de lonjuras. Quem me conhece bem sabe que digo a verdade. Não conto lorotas e nem causos de assombrar corações.
Ontem se deu o ocorrido.
De volta de uma visita rápida a uma cunhada. Pessoa que dispensa comentários por sua coragem de enfrentar enfermidades sem se curvar a elas. Num cruzamento perigoso de uma rua com outra. Sem semáforos a nortear os motoristas. Olhei, revirei meus olhos de um lado ao outro. Parei o carro um minutinho apenas. E fui em frente sem olhar pra frente.
Foi o quase que me salvou. Por um átimo de segundos não fui abalroado de frente por um ônibus circular. Seria uma batida indigesta que por certo iria nos levar ao paraíso. Por um triz evitei a colisão frontal. Não creio que seja um bom condutor de veículos. Mas barbeiro não me acho.
Agradeço mais uma vez ao quase. Por um tiquinho de nadica de nada não morri.
Vem dai a minha ojeriza a andar de carro. Uso as pernas a cada dia. Nelas eu confio.
Não posso dizer o mesmo sobre o trânsito amalucado. Deus me perdoe se deixei escrito que foi somente o quase me salvou. Tem o dedo Dele nessa história que acabei de contar a vocês.