Se pudesse desligar o botão do pensamento faria sem pensar.
Um minuto sequer. Um instante fugaz.
Pensamentos me atormentam. Fazem-me perder o pouco sono que tenho.
Mas eles me levam a cada lugar. Pena que só me fazem pensar. E não consigo me deslocar de onde estou. E viajo em ser preciso arrumar malas. Ou tomar o avião já que avoo por asas próprias. Sem me desprender do chão. Ou ver as nuvens lá no alto. Na azulice do céu onde elas moram.
Já precisei de muito mais. Ainda jovem, diplomado em medicina, precisava continuar estudando na intenção de me aperfeiçoar. Meus conhecimentos ainda eram poucos. Insuficientes para me adentrar pelas vias urinárias. Retirar pedras encalhadas no trajeto entre os rins e a luz do dia. Ou permitindo pacientes urinar como dantes. Removendo próstatas que impediam a saída da urina.
Já precisei de auxilio de colegas quando me sentia em dificuldades. E como eles foram de muita valia naqueles momentos de aflição. Como já foi preciso dizer não. Quando o sim teimava em sair de minha boca.
Já foi preciso de muita paciência para enfrentar situações conturbadas. Com o tempo fui me acostumando a contar até mais de mil a espera de momentos melhores.
Já precisei chorar. Custei a segurar lágrimas. Mas elas despencaram pelo meu rosto crispado de dor.
Já passei por momentos de aflição. Mas eles continuam a me atormentar. Mas aprendi a segurar minha inquietude. Mas jamais deixei de lamentar a perda dos meus queridos pais.
Já precisei de colo. Agora quando preciso me satisfaço no meu próprio aconchego.
Já careci de opiniões quando questionava minhas próprias ideias. Agora, mais vivido, prefiro recorrer a consultas que faço pelo sabichão do Google.
Já precisei de conselhos dos mais experientes. Agora penso que as lições que a vida me deu são suficientes para não errar tanto.
Já precisei recorrer a um ombro amigo. Mas os amigos que hoje tenho são tão poucos que quase não tenho a quem me queixar.
Já precisei correr e as pernas me obedeceram. Agora se preciso for não sei se elas vão correr comigo.
Já precisei me trancar dentro de mim mesmo. Agora nem sei onde joguei a chave. Quem sabe se numa próxima data eu a encontre. Já que não encontro nem a mim mesmo.
Já precisei dizer eu te amo. Mas como não tive resposta a minha declaração de amor ela se transformou em dor. E a saudade me cavouca até hoje. Dos bons tempos que passei ao lado daquele amor não correspondido.
Já precisei de muita coisa. Coisas e loisas que me foram tão caras. Agora meus valores mudaram. Já não prezo tanto ganhar dinheiro. Meus pertences são mais que suficientes para ser feliz. Pra que mais?
Já precisei trabalhar muito quando aqui cheguei. Agora o trabalho ainda se torna necessário. Mas me permito um respiro.
Já careci de corresponder aos anseios de pessoas que compartiram minha vida. Agora pouco se me dão opiniões emitidas sobre mim.
Não preciso tanto de encômios. Mas que digam a verdade quando opinarem sobre mim.
Não preciso mais de muita coisa.
Mas por favor. Não me impeçam nunca de acordar sempre a mesma hora. De estar aqui descrevendo o que me passa por dentro. Teclando as teclas negras desse meu computador.