Bem o faz o Zé da Tiana

Sossego, tranquilidade, paz de espírito, e outras virtudes mais, é tudo que a gente deveria esperar da vida.

Mas nem sempre é isso que a vida traz.

“Faça o que eu digo e não o que faço”.  Essa máxima a tenho comigo. No mais recôndito abrigo escondido dentro de mim.

Quando tento dizer que fica quieto no seu canto eu mesmo, no meu desencanto, não tenho como me aquietar. A hiperatividade dentro de mim se manifesta. Não tenho parança dizem meus amigos da roça.

Por vezes não sei se vou ou se fico.  Avoo sem asas nas alturas. E aterrisso aqui mesmo nessa minha sala.  Onde exercito minha dupla militância. Tenho pela urologia em alta estima. E mais ainda a literatura me fascina.

Sossego, tranquilidade, vivendo na calmaria mesmo na ventania. Assim vive modestamente meu amigo do peito. Bem chegado aqui dentro. Pessoinha a qual considero como a um irmão. Cujo pré nome é Zé.

Tiana é uma das muitas raparigas que com ela se ajuntou. Uma das tantas que passaram pela sua cama.  Dormir era um pretexto.  Em verdade todas elas acabaram dormindo menos que o previsto. Já que a sanha do Zé era muita.  E sem fazer amor ele não dormia. Passava a noite em claro mesmo que fosse ela escura.

Zé era a calma em pessoa. Sempre de bem coma vida ele sorria até da própria desgraça. Nunca o vi de mau humor. Se lhe faltasse grana ele não se apoquentava. Recorria a um amigo endinheirado e a ele pedia emprestado. Um dia ele pagaria. Não se saberia dizer quando. Esse quando nunca chegava.

Zé, naquele dia quando nos encontramos, ele pitava um paiero apagado. Era de seu costume tirar um cochilo depois do almoço. A janta era a mesma comida requentada.

Tempo era o que não lhe faltava. Tempo ruim pra ele não existia.

Se chovia além da conta pro Zé tanto faz como se desfez. Se a chuva escasseava ele buscava água da mina.

“Bobagem. Esquenta a cabeça não. Um dia vai melhorar”.

Quem lhe passasse os olhos a ele daria menos de trinta. Mas Zé já havia dobrado a serra desde que ela era um montinho de nada. A sua receita para não envelhecer era essa: “durma bem. Não se preocupe com coisas que não lhe dizem respeito. Faça a sua parte. Se os outros não fizerem as deles não perca o sono. Ande a pé. Não assista à televisão. Leia um bom livro ( recomendei a ele um do Paulo Rodarte- de nome Rakel). Não faça aos outros o que não quer que lhe façam. Durma com um olho aberto e outro fechado. Feche a mão quando lhe pedirem dinheiro emprestado”.

De fato. São sábios conselhos.

Nesse ínterim Tiana entrou na conversa. Era uma linda mulher. Muito parecida com a Julia Roberts naquele filme do mesmo nome.

Só que bem mais novinha. Ela só tinha a enaltecer as qualidades do seu Zé.

“Meu Zé é tudo de bom. Um dos melhores homens que já tive. Não ronca. Nem é sovina demais. Se não me dá não insisto. Gente da prateleira de cima. Não falha na hora do vamos ver. Nunca o vi amuado. Ri mesmo à falta da dentadura. Dorme como um anjinho sem pecado. Penso que ele é fiel. Nunca olhou pra outra mulher que não seja eu”.

Escutei tudo aquilo calado. De vez em quando olhava pro Zé de rabo de olho. Com um aberto e outro fechado.

Zé, sem que a Tiana soubesse, piscava o olho direito e dizia com o esquerdo.

“Faz de conta que tudo é verdade”.

Bem o faz o Zé da Tiana. Num é?

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