Que venha logo mais um agosto

Mas que venha de mansinho. Assoprando um ventinho gostoso. Do jeitim que apricia um bom mineirim.

E não provoque mais um desgosto naquela mãezinha que já perdeu um fio. Me arripio só de matutar.

Que venha mais um agosto. Dia um meu paizinho iria colher mais um aninho. Infelizmente ele se foi sem se dispidir ou anuncia.

Que compareça. De corpo presente. Mais um mês ventoso. Que traga nos seus dias uma chuvica mansinha que peça a poeira pra se afastar.

Que apareça de cara lavada mais um mês de agosto. Não provocando tanto desgosto naquele menininho que tentou empinar sua pipa e ela não avoou por se engastalhado num fio de luz lá no alto. Onde a sua mãozinha não alcança e elezinho se cansa de esperar uma alma boa pra ajudar.

Que venha mais um agosto. Que não seja a contragosto daquela linda donzela. Cujo pai era uma fera. E não a permitia passear de mãos dadas com o luar.

Que compareça e se apiede da gente. Mais um agosto que começa um dia depois do hoje. Esse julho que se despede essa noite. Na intenção de deixar agosto mostrar seus dotes ditosos. A todos que acreditam não ser agosto mês de cachorro doido. Pois doidos somos nois por acreditarmos nessa sandice. Pura idiotice nascida de nossas mentes crentes em dias melhores. Pois pior que está só se miorar.

Que nasça mais um agosto. Quando os ipês florescem em seus distintos matizes de cores. Todas lindas pena que duram tão pouco as florzinhas dos ipês que dizem não cair em terra seca. Se pudesse, e meus devaneios dessem conta de permitir. Numa conversa que tive com uma florzinha do ipê. Disse a elazinha, numa descida de onde morava, num dia de agosto findo: “florzinha do ipê. Não estas tão triste? Caíste na relva seca do jardim em pleno viço. Suas irmãzinhas flores te olham do alto. Nem ao menos se despedistes delas. Não vai sentir saudade”?

Elazinha, me olhando de baixo respondeu com suas petalazinhas  quase mortas: “se o senhor pudesse me colar de novo no mesmo galho fino de onde nasci estaria muito agradecida”.

Fi-lo num átimo de segundos. Lá do alto ela sorriu pra mim.

Que venha agosto sem muitos atropelos. Que você traga bons eflúvios para todos nós.

Que venha outro agosto. Não tão quente como de outras vezes. E não trazendo um frio imenso que nos faça enregelar.

Que venha mais um agosto. Que consiga fazer pensar aos atletas olímpicos que bronze não cheira e não tem o mesmo valor do ouro. Que traga mais medalhas e apreço a nossa pátria amada não só nas disputas como no cotidiano em que vivemos no dia após dia.

Que venha mais um agosto. Que permita quando setembro vier não sinta saudades de outros meses que por ventura virão.

Que venha mais um agosto não tanto frio que não seja morno. Que nos faça recordar de nossos ancestrais e não nos permita esquecermo-nos do passado. Do quanto nossos pais foram e ainda são importantes. Mesmo vivos apenas em nossas lembranças.

Que nasça mais um agosto não tão ventoso. Que esse mês que vai nascer não derrice tanto as florzinhas dos ipês. Que elas não caiam na relva ressequida de um jardim. Que sejam elas molhadas docemente pela chuva mansinha que agosto vai trazer.

Que venha mais um agosto. Não a contragosto do que pensamos. E sim trazendo boas novas. Menos poluição. Menos pobreza e mendicância. Menos tudo que pode macular nossa bandeira que mostra um amarelo vivo como as florzinhas dos ipês. Um verde verdejante como deveria ser o verdume de nossas matas. E um azul diáfano e cristalino como as águas azuis de uma piscina olímpica.

Que venha mais um agosto para quando setembro vier não nos arrependamos por todo mal que fizemos. E outubro nasça com mais chuvas para brindar ao homem do campo como recompensa que eles bem merecem. Que novembro desponte como o penúltimo mês do ano. Já que dezembro enseja mais um ano que falece.

Que venha logo mais um agosto. Mês estranho. Mal falado. Tantas vezes injuriado sem motivo algum. Afinal foi no dia um que nasceu meu saudoso pai.

 

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