Aquele natal que não conhecia

Já passei por muitos natais.

Fazendo as contas mais de setenta deles.

Nos primeiros anos de minha vida mal sabia eu o significado daquela data importante, efeméride que marca o nascimento do menino Jesus.

Via de costume ela cai no final de dezembro. Mês quando celebro meu aniversário.

Quando me entendia por gente, menino ainda, aos cinco anos aqui, nesta cidade linda aportei, finquei os pés e quase não a deixei, a não ser para continuar a minha formação profissional, ou para algum curso de especialização, na minha área de urologia, alguns eventos da especialidade me atraiam, para a minha Lavras querida voltava sempre, saudoso daquele convívio fraterno, velhas amizades, aparentados, onde pretendo ser enterrado, junto a um montão de livros, não sei quantos serão, de hoje ao meu fechar de olhos.

Os natais de antigamente eram distintos. Eram noites repletas de sonhos. Mal conseguia dormir de véspera.

Cria no bom velhinho. Mal sabia imaginar, como uma pessoa obesa, vinda de terras distantes, com uma barba nevada, viajando pelos ares num trenó puxado por renas aladas, passava por aquela chaminé esfumaçada, estreita e apertada, trazendo às costas um saco recheado de presentes, cada um endereçado a uma criancinha perdida por este mundão afora.

Naqueles idos anos meus presentes eram variados. Cada um seguindo a minha faixa etária.

Aos seis, se não me engano, ganhei uma bicicletinha de rodinhas amarelas. Das quais logo me desvencilhei, não sem antes colecionar galos na minha testa ancha.

Anos se foram. O menino que morava dentro de mim atravessou a infância na distância dos meus muitos anos. Aquele moleque lourinho, que quase perdeu a fimose numa passagem por um galinheiro, na vizinha Boa Esperança, cidade onde nasci, acabou se transformando num idoso que não perdeu a esperança de que um dia vai deixar um rastro recheado de letras miúdas. Que terminaram por se transformar em livros.

Já hoje, semi-aposentado, nunca deixarei que o ócio acabe me transformando num velho caduco, que passa o dia inteirinho assentado a um banco da praça, olhando, olhares perdidos no nada, pois ainda me tenho como capaz.

Pretendo, deixar como legado aos meus netos, o prazer que hoje me consome por uma boa leitura, tentando incutir cultura e sabedoria naqueles que desfrutam o prazer de ler.

Já esta bela Natal, de onde recém acabei de chegar, em verdade não a conhecia.

Esse estado, do amável e hospitaleiro Nordeste, potiguar quem nasce e vive naquelas plagas, tem um sotaque inconfundivelmente cantarolante.

Natal é uma cidade que recebe turistas e visitantes com um estridente “oxente”. Que nada mais é do que demonstrar estranheza ou espanto. É sinal de boas vindas e de afável acolhimento.

Nada como demonstrar conhecimento.

Natal é a capital do Rio Grande do Norte. Pra mim não era novidade. Situada na extremidade norte de nosso país. É conhecida pelas extensas dunas de areias brancas. Pela beleza do seu litoral. O forte dos reis magos é uma das atrações turísticas que se encontram por lá. Genipabu é uma região de enormes dunas adornado por uma lagoa de água doce.

Pela vez primeira fiz um sobrevoo pelos ares. Atrelado a um cinto de segurança voei por aqueles ares tal e qual um urubu motorizado. Não por asas próprias. E sim levado por um voador conhecido como parapente. Não senti nenhunzinho friozinho no andar de baixo. Foi uma viagem bem mais curta que de São Paulo a linda Natal.

Esta cidade ímpar recebeu tal nome de batismo por ter sido fundada em vinte e cinco de dezembro de 1599. Hoje a população estimada conta com inexatos 890.480 potiguares. Gente feliz que ama aquele abençoado estado, de praias belíssimas, clima que muda a cada instante, ora chove, ora se abre o sol.

Ali conheci o verdadeiro espirito nordestino. Descobri a verdadeira hospitalidade. Caminhei olhando as dunas. Respirei o assopro do vento.

Não corri nenhum risco de ser assaltado. A violência, a bandidagem, parece ter sido erradicada por aquelas paragens.

Foi quase uma semana inteira de férias.  Confesso ter engrossado alguns quilinhos a mais.

Camarões graúdos, peixes de todos os tipos, carne de sol, não vou me alongar muito não deixá-los com vontade de dar uma voltinha pro lado de lá.

E as piscinas de águas tépidas e cristalinas? E os drinques servidos nos quiosques à beira mar? Fora os petiscos que nos faziam salivar?

Tudo isso, aliado àquele sotaque cantarolante, aos oxentes que recebi, a cordialidade genuína que desfrutei, fazem daquele natal diferente.

Não sei se voltarei, algum dia, a Natal. Mas fica aqui, neste depoimento sincero, meus agradecimentos, de coração, a boa gente  potiguar.

Essa Natal me fez reviver aqueles natais passados. Na doce companhia de meus saudosos pais.

 

 

 

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