Viver faz todos os sentidos. Tanto na infância, na juventude, na vida adulta, no mais tardar dos anos.
Como é bom acordar bem cedinho. Ver o despertar do sol numa manhã de outono. E na primavera as flores desabrocharem. No frio do inverno ficar na cama até mais tarde. E no calor do verão se refrescar nas águas de uma cachoeira que deságua num lago de águas límpidas.
Já disse um poeta, no seu linguajar poético: “a vida vale a pena quando a alma não se apequena.”
De fato concordo com o dizer do seu poema. Embora desconheça onde mora a alma sei que ela existe. Pra mim se trata de um vulto esfumaçado que se desprende de nosso corpo quando a vida termina. E levita ao alto como um pássaro num vôo rumo ao céus.
Faz sentido viver por muitos anos. Desde que não pereça a nossa vontade de viver.
Mas pra mim não faz sentido viver quando a saúde nos abandona. Quando jogados no leito de um hospital. Sem poder sequer abrir os olhos e ver o clarume de um novo dia. E agradecer a quem cuida da gente. Aí, de nada adianta continuar a viver.
A vida perde o sentido quando nos sentimos inúteis. Sem podermos ajudar a quem precisa. Alijados de uma sociedade consumista que só pensa no próprio nariz. E não enxerga além de si própria.
A vida perde o sentido quando não somos mais capazes de dizer como eu gosto de você. Quando não mais podemos acarinhar a quem precisa de carinho.
Não tem mais sentido quando não se pode mais caminhar pelas próprias pernas. Não pudermos mais abrir os olhos e sabermos distinguir entre o certo e o errado.
Carece de sentido quando não mais soubermos identificar, por nossos próprios olhos, que não mais enxergam a luz do dia. E não sabermos mais viver na escuridão. Aí sim pra mim perde o sentido continuar a viver. Uma vida sem luz própria. Sem sentido de continuar a ser.
Não faz sentido viver sem sentimento. Sem o mínimo senso de sensibilidade. Sem saber a razão de as flores se abrirem. De a chuva cair matando a sede das plantas que nascem de uma sementinha. Que uma vez lançadas a terra não sabem que não irão crescer.
Não faz sentido pra mim viver sem conviver. Sem amar, sem poder abraçar, nem sequer dizer eu te amo.
Não faz sentido sentir sem sentir dor. A sensibilidade se mostra na pele acarinhada. Na ferida não tratada. Na carência de afeto que enseja coisa ruim.
Pra mim não faz sentido não sentir a dor alheia. Viver sem sentimento. Não lamentar a miséria que pulula a nossa volta. Não se condoer da dor dos outros.
Carece de sentido viver tanto tempo e não aprender quase nada. Ficar imune ao aprendizado. Dizendo saber tudo pra mim significa nada saber.
Não faz sentido sentir sem dividir sentimentos. Ninguém vive isolado. O mundo carece de afeto e solidariedade.
Pra mim não faz sentido escrever tanto, sem que outros compartilhem da inspiração que me cavouca o âmago.
Não faz sentido ficar impassível a tanta desigualdade que existe em nosso entorno. Melhor repartir o muito que temos com a maioria que não tem quase nada.