Há tempos não a tenho visto. E como era gostoso tê-la do meu lado.
Ainda me lembro dos cuidados que ela tinha para comigo. Mais um dia das mães sem a sua presença inspiradora.
Quando ela ainda vivia, eu criança, mal sabia esperar à hora do almoço. Naquela mesa azulejada, anexa à cozinha de diminutas dimensões. Meu pai, meu irmão e eu, comiamos aquela comida gostosa. Que somente ela sabia fazer.
Dona Rute era professora. Que por pouco tempo exerceu sua nobre profissão. Ao revés de sua irmã, a também saudosa tia Cida Rodarte, que constantemente me é lembrada nas ruas. E pessoas não cansam de repetir: “Paulinho. Sua tia foi minha professora. Até hoje me lembro dela. Que saudades ela me traz. Faz pouco tempo que ele faleceu”?
Em sete junho próximo minha querida mãezinha faz aniversário. Se ela estivesse ao meu lado iria completar mais cinco que um centenário.
Mas naquela data fatídica ela foi ao céu. Fazer companhia ao meu saudoso pai. E a outros aparentados consanguíneos. Entre eles cito meu avozinho Rodartino e minha querida avó Belica. Entre eles descansam entre os anjos meus tios Rui, Chico, Cida, e ainda resta entre nós tio Rubio, que por certo vai viver por muitos anos mais.
Se a minha mãe estivesse ao meu lado nunca iria deixar de fazer-lhe uma visita. Quando aqui cheguei, nos idos anos de um mil novecentos e setenta e sete. Vindo da Espanha. Morando numa casa solitário antes de me casar. Um tanto atarefado com a vida de médico que até hoje me acompanha. Quase não tinha tempo para com ela estar. E quando meu pai caiu enfermo. E ela me chamava para ajudar a levantá-lo à hora do banho. Quantas vezes me ausentei. Lamento até hoje o acontecido. Se pudesse estar ao seu lado me desdobraria em mais de mil. Mas sendo apenas um não pude estar naquela hora quando ela mais precisava.
Se minha mãe ainda estivesse ao meu lado iria sempre a sua casa. Que agora não mais existe. E que dias gostosos passamos juntos. Em natais passados. Em dias festivos em que celebrávamos tantas coisas boas. As ruins não foram esquecidas. Quando ela caiu enferma. E a levei ao hospital aqui pertinho. Quando ela, nos seus instantes finais me perguntou: “meu filho. Será que vou morrer”? Naquela hora ingrata omiti a resposta. Simplesmente fiz que não soubesse.
Se minha querida mãe estivesse ainda do meu lado jamais iria me esquecer de dizer o quando ainda a amo. Mesmo a sua ausência sinto a sua presença nos dias que se seguem. E ela vai continuar viva do meu lado. Inspirando os meus escritos. Aplaudindo os meus acertos. E dizendo as suas amigas: “comprem os livros do meu escritor predileto. Se não irei comprá-los todos eu”. E ela o fazia como um dia fez.
Se minha mãe estivesse do meu lado iria com ela a casa da minha avó Belica. Na mesma rua mais em cima. Iríamos assentar aquela mesa enorme. Saborear aqueles gostosos bolinhos de chuva que só ela sabia fazer. E chupar aquelas jabuticabas tão doces quanto seu beijo doce. Que ela deixava na minha bochecha quando eu acordava mais tarde. Dizendo que naquele dia não queria ir à escola. Por um motivo qualquer.
Se minha mãezinha ainda estivesse do meu lado nunca iria me ausentar nas horas quando ela mais precisava da minha presença. Mesmo que estivesse por demais ocupado. Naqueles dias em que a medicina ocupasse mais tempo. Esse mesmo tempo que agora me afasta da minha querida mãe ausente.
Se a tivesse do meu lado iria com ela a minha casa no campo. Para ouvir dela aquelas historinhas que ela me contava a hora de dormir.
Se ainda a tivesse do meu lado nunca iria me furtar em lhe dizer. “Minha querida mãe. Nesse domingo passado mais uma vez não a tive do meu lado. No próximo também não. Nos vindouros quem sabe nos encontremos de novo. Ao lado do meu saudoso pai”.