Queria ser como ele

Quem ainda, geralmente jovem, plena mocidade ou respirando infância, não lançou a queima roupa esta afirmação a outrem? Já que o personagem da sua predileção, a quem admira como o sol lança seus raios iluminados às estrelas zombando-lhes dos seus brilhos fugazes, o dito do título do meu texto de agora cedo ( queria ser como ele), quinze de agosto, que começou fresco, com o astro rei a brilhar, mais tarde esquenta deveras mais? Se não o fez não sonhou. Não cometeu devaneios. E nunca foi poeta, ou atreveu-se a escrever nem que fossem algumas linhas apenas àquela mocinha de pernas grossas, que depois afinaram, tornou-se a mulher de sua vida, como a Rosa é a minha, desde há anos muitos atrás.

De começo da vida, anos passados, sonhava ser como meu pai. Não ingresso na carreira de bancário, gerente se tornou depois de anos e anos a provar sua enorme competência profissional. Mais tarde, uma vez concluído o ensino médio, na época era o cientifico, sem nenhum antecedente familiar entre os Rodartes, entre os Abreus já tinha coisa que o valha, enveredei-me pelo caminho dos esculápios. Médico me tornei. Especialista em Urologia fiquei.

Foram oito anos de estudos, de viagem ao estrangeiro, a Espanha dos toureiros os quais jamais conheci. Confesso que torcia pelos touros. Pelos mais fracos decidi emprestar meus aplausos quando estes animais conseguiam furar a capa vermelha que se deixava agitar as suas frentes, num chamariz irrecusável as suas investidas furiosas.  Talvez por este motivo, mais tarde, bem mais tarde, tenha caído de amores pelas vacas e seus mugidos, suas ruminanças e seus ares doces, totalmente dependentes da gente especialmente em períodos de estiagem como o que atravessamos.

E como gostaria de ser como todos aqueles bem sucedidos em seus metiers, fossem eles poetas, romancistas, cronistas, especialmente eles, embora as profissões normais sejam da mesma forma importantes para que as rodas da vida girem adiante.

Mais uma verdade assinalou-se a mim tempos depois. A gente pode ser tantas e tantas coisas e loisas, tantos eus enfiados dentro de várias carapaças, que não se pode contá-las nos dedos todos de uma só mão.

Quantos excelentes médicos são ótimos atletas, fazendeiros perfeitos, escritores sem defeitos, falantes em tantos idiomas, isso quando Ele controla com amor todos estes dons administrados por um ente superior, conhecido por Deus.

Esta pergunta quase todos os dias, especialmente pelas manhãs bem cedo, lanço-a, quando eles menos esperam, aos jovens amochilados, rumo à escola: “o que você vai ser quando crescer”?

Já escutei tantas respostas, a mais safadinha delas é esta: “grande”.

E quando o aluno já é grande? Volto a indagação. E a pergunta transforma-se nesta: “o que você vai ser no futuro”?

Aí, sem outra opção, o garoto, esperto, vem com esta: “médico de gente, ou de vários e outros bichos iguais. Engenheiro de minas, desde que seja das Gerais”. E outras tantas que nem sei citá-las quantas. Tantas que são listadas no papel que mostra as profissões existentes a nossa escolha, cada tempo mais e mais delas nos são oferecidas num imenso cabedal. Uma gama imensa de variantes.

Ontem, depois de me despedir do médico que ainda mora dentro de mim, dar-lhe folga até o dia de hoje, no vestiário da piscina do clube pra onde sempre vou, exercitar a saúde que felizmente brota de dentro do meu corpo gasto pelos mais de sessenta e sete anos,  deparei-me com um rapazola, por volta da sua juventude manifesta num par de óculos, ao desferir a ele a mesma questão, sobre o que gostaria de ser mais tarde, pensando na profissão abraçada, se médico, agrônomo, fazendeiro, outra símile, ele veio com esta resposta, especial: “ quero ser tudo isso. E mais do que isso. Gostaria de ser feliz”.

Fiquei com a resposta entalada dentro do meu âmago sensível. O nome dele está fincado não apenas dentro dos meus pensamentos, assim como anotado no meu celular, como Gabriel Feliz.

E como gostaria de ser como ele. Mesmo reconhecendo que felicidade tem a mesma verdade que a florada dos ipes. Ela é breve e fugaz. Vai e volta como as pás dos moinhos de vento.  Vivemos todos momentos de felicidade. Instantes apenas. Pena que ela, a tal felicidade, não vive eternamente.

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