Vinte e cinco anos sem Ele

Ele em maiúsculo. Como maiúscula era a sua pessoa.

Daqui do meu lado tenho a nossa fotografia. Numa reunião rotária, anos atrás, entrego a ele um diploma. Pela fotografia não se permite ver o que estava escrito. Naqueles tempos idos eu usava um bigode negro como as asas da graúna. Uma cabeleira preta cobria minha cabeça ancha. Meu saudoso pai com sua calvície já manifesta desde jovem. Com seu sorriso contido ele, de mãos estendidas, parecia ler o que aquele diploma ensejava. E eu olhava com os olhos recheados de orgulho os dizeres grafados naquele pedaço de papel.

Creio ter sido aquela a derradeira fotografia feita ao lado do meu pai. São passados alguns anos que aquela fotografia foi tirada. E vinte e cinco anos desde que ele se foi.

Paulo José de Abreu, filho e Alberto de Abreu e dona Maria. Nascido nesse mês de agosto no dia primeiro.  Era meu pai. Gerente de uma casa bancária com o nome de nosso país, ali fez carreira. Subiu degrau por degrau, por muito admirado por sua seriedade e competência profissional. Já passou por muitas cidades, se não me falha a memória começou por Caratinga. Passando por Boa Esperança, onde nasci. Até vim ter por aqui, a minha Lavras amada. Cidade que não é meu berço, mas considero-a como minha mãe. Do meu pai tenho saudosas recordações.

Era num quartinho meio escondido de nossa casa. Que hoje apenas existe em minhas lembranças mais ternas. Que ele fazia as suas petições advocatícias. Bem me recordo do tiquetaquear da velha Facit. Em petições escorreitas. Numa linguagem bem escrita. Folhas e folhas de papel eram deixadas naquele cesto. Muitas delas aproveitadas para escrever depois.

Meu pai nunca se aposentou por completo. E como ele amava o trabalho. Uma vez jubilado na carreira bancária outra se sucedeu. Foi em Lafaiete que se formou em direto. E como fazia direito a sua outra profissão. Foi ele que me deixou essa máxima, a qual tenho como norma de conduta: “não se aposente nunca meu filho. O ócio é o começo do fim.”

E como meu querido e saudoso pai amava a represa de Camargos. Ali ele construi sua casa. Onde de quando em vez o levava. Bem me lembro da última vez que fomos juntos. Ele, já em avançado estágio de sua enfermidade, já em cadeira de rodas, olhou para as águas da represa, onde tinha o costume de pescar lambarizinhos, e a mim me pareceu se despedir da vida.

Fazem vinte e cinco anos que ele partiu. Meus olhos lacrimejam quando penso nos seus últimos dias. Meu pai faleceu em meus braços impávidos de médico. Foi uma morte esperada, mas jamais desejada. Minha mãe cuidava dele até nos derradeiros momentos. Naquela casa, que daqui não mais se deixa ver. Já que em seu lugar é construído mais um espigão. Que ele, meu pai, se foi.

E como ele amava a minha irmã Rosinha. A quem ele criou como se fosse a própria filha.  Já que nossa amada Rosinha nasceu do ventre da querida tia Cida.

E ela ainda vive, se perguntarem a elazinha quem é seu pai. Rosinha não se acanha em dizer: “meu pai é o Paulo José de Abreu e minha mãe e dona Rute Rodarte de Abreu”.

No domingo vindouro celebra-se o dia dos pais.  Agosto pra mim tem um significado especial.

No primeiro dia desse mês naseu meu pai. Dia dez, domingo, comemora-se o dia deles.

Faz vinte e cinco anos que meu pai subiu aos céus.  Vinte e cinco anos sem meu pai ao meu lado.

Como não posso mais lhe dar um abraço. E dizer o quanto o amo e reverencio a sua memória.

Deixo aqui esse texto. Dos tantos que tenho escritos.

Receba meu pai. Nessa data que domingo celebramos. E em outras que iremos passar.

A minha homenagem nascida do seu fillho que sente a sua ausência. Dos seus ensinamentos que até hoje me norteiam. Do seu carinho e desvelo dedicado a sua família.

Vinte e cinco anos se foram desde o seu passamento. Mas não pense, meu pai, que o esqueci. Não te esquecerei jamais.

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