Melancólico final de ano

Dezembro mostrou a carinha desconsolada.

Mal começava o mês e o salário de Zé Pitimba agonizava.

“Cadê a grana”?  A mulher do Zé a ele pedia dinheiro para ir ao supermercado.

O infeliz cartão de crédito ia à estratosfera. Juros exorbitantes deixavam aquela família em polvorosa.

Zé não tinha como pagar as contas. Juntava boletos no tampo da mesa. Impagáveis ele dizia. A conta de luz vencida. O aluguel em atraso. A água prestes a ser cortada. Panelas vazias a espera do almoço. A janta então nem em sonho. Um verdadeiro pesadelo vivia o Zé. Apelidado de Pitimba em justa causa.

A cada ano a mesma cantilena. Férias nem pensar. O salário que recebia o Zé mal dava para começar o mês. Na primeira semana ele fechava os olhos. Na segunda as contas atazanavam.

Cobradores faziam fila na porta daquela casinha. Já sabiam eles que não iriam receber.

Zé acabou empenhando tudo que possuía. O pobre gato foi posto a venda na venda do Seu Joaquim. Nada mais sobrava naquela despensa vazia. Ainda bem que Zé Pitimba não tinha filhos. Era ele e a patroa viviam às turras naquela morada prestes a ser desocupada por falta de pagar o aluguel.

O natal se avizinhava. Ainda bem que não tinham a quem dar presentes.

Zé esperava atento o pagamento do décimo terceiro. O patrão ganancioso prometeu pagar antes do dia vinte. Mas quem espera deveria alcançar. Mas Zé foi vencido pelo cansaço.  Acabou recebendo o cartão vermelho. E terminou o ano cansado de esperar dias melhores.

As festas de final de ano tiveram de ser adiadas. Quem sabe no ano que vem as coisas iriam melhorar?

Acontece sempre o imprevisível imprevisto. Nas barbas do natal a mulher do Zé ficou doente. Carecia ser internada em tempo antes de maiores contratempos. Mas cadê um plano de saúde decente? Eles mal tinham como pagar nem ao SUS.

Dona Maria foi internada na enfermaria. Onde permitiam visitas apenas aos sábados.

Zé passou um mal bocado. Tristonho, desassogedo, tentava dormir debalde não conseguia.

Na rua da amargura, amargurado, desempregado, vivia do que lhes davam. Uma vez despejado de sua casa passou a viver na rua. Dormia debaixo de um viaduto sem salvo conduto. Foi preso um dia antes do natal. Por ser considerado persona não grata. Uma ingratidão o que fizeram com o Zé. Justamente ele que podia ser tudinho menos isso tudo. Um sujeitinho sem pedigree, um desajustado, um ser deplorável, que morava nas ruas esperando dias melhores, que nunca vinham.

Na véspera do natal enfim Zé reencontrou a felicidade. Ela dormia ao seu lado num banco da praça. Lendo um jornal vencido Zé acabou descobrindo um novo emprego. Mesmo desbarrigado foi ser Papai Noel de um shopping elegante na capital. Ganhava o suficiente para pagar as poucas contas que o atazanavam.

No dia seguinte ao natal tirou sua amada esposa do hospital.  E viveram felizes até o ano vindouro. O resto se desconhece o capitulo final.

 

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