Que eu saiba não se deseja a morte.
Mas um dia ela chega. De repente, inesperadamente, devagar, de mansinho. Sem mandar recado ou watsApp. Sem estarmos de acordo, ou em desacordo.
Certo que nosso dia chega. De causas naturais ou provocadas a morte não manda recado. Pode vir recatadamente ou seguida de muito estardalhaço quando se morre em acidentes. Mortes são inconsequentes. Ou devidas a vidas desregradas. Graças ao consumo exagerado de álcool ou drogas nocivas. Mas convenhamos- morrer nos braços da pessoa amada deve ser algo maravilhoso. Como quando se observa água pura correndo num riacho em direção ao rio que morre no mar.
Morrer é inevitável quando se morre em idade avançada. Mas ver um pai enterrando um filho da no mesmo que uma rosa em botão não se abrir em flor a enfeitar um jardim.
Morre-se de causas distintas. O coração se torna um vilão na maior parte das vezes. E quando ele para de bater outros órgãos seguem-lhe o exemplo. Poder-se-ia dizer mau exemplo. Mas nosso corpo é finito. Como nossa vida certamente tem fim e começo.
Morrer sem conviver. Sem amontoar amigos. Sem poder ver nossos netinhos a nos fazerem de brinquedos com suas brincadeiras muitas vezes desgraciosas a nossa idade provecta. Sem ter amado e distribuido amor. Hão de concordar comigo. Se assim viveu sua vida não teve sentido. E qual seria o sentido da vida sem ter a quem amar. Sem poder dizer como eu te quero bem.
Meu compadre Juliano. Que comigo conviveu por muitos anos. Morto no mês passado. Pessoinha de alma pura como os anjos. Foi encontrado morto na sua casa. Onde vivia repartindo sua solidão com ele mesmo.
Ele não morreu de velho. Subiu aos céus com apenas sessenta anos. Em saúde perfeita dizia a si mesmo.
Trabalhou a vida inteira. Foi de tudo um pouco. Não tinha diplomas, mas era diplomado pela vida não em cursos superiores e sim em sabedoria. Viveu até quando lhe permitiram sem se dar ao luxo de tirar uns dias de férias. Viveu pelo e para o trabalho. Não se casou nem deixou descendentes.
Juliano sempre teve um desejo imenso de conhecer o mar. Mas a lida contínua não permitiu.
Sempre meu amigo teve uma vontade forte demais de ter filhos. Mas não se sabe a razão de ele ter nascido infértil.
Juliano tinha uma vontade imensa de conhecer o mundo inteirinho. Mas nunca teve a oportunidade de arredar pernas do seu rincão amado.
Ele sempre manifestou aos seus incontáveis amigos a vontade de ter ao seu lado uma mulher. Mas quis o destino que ele vivesse na sua doída solidão.
A mim um dia ele assim se manifestou: “como tenho vontade de conhecer quem foram meus pais”. Mas ele se foi sem sequer saber quem foram eles.
Meu querido amigo Juliano partiu prematuramente. Morreu dormindo. Sem ter tido a chance satisfazer suas vontades.
E quando me perguntam qual a causa mortis de Juliano. Das tantas que conheço.
Decerto não foi por nenhuma causa relativa a doenças do coração. Nem por falência múltipla de órgãos. Nem por alguma enfermidade dos pulmões. Que ele os tinha perfeitos.
A minha conclusão é que meu amigo acabou morrendo não por algumas dessas doenças corriqueiras citadas em compêndios de medicina.
Ele morreu de tantas vontades e desejos que teve em vida. Coisas loisas que não pôde ver concretizados. Quem sabe lá no alto ele consiga satisfazer suas inúmeras vontades. É o que desejo a você meu amigo.