A espera do dia seguinte

O que é a vida senão esperar. Ter paciência. Contar até dez.

E muitas vezes a pessoa que esperamos não chega.

Eu sofro por antecipação. Não sei esperar. Chego antes do combinado.

Conto as horas, minutos, segundos, e vou esperando, olhando sôfrego para o relógio.

As horas passam e vou embora. Se não chega quem espero não a espero outra vez.

Dizem que quem espera muito se cansa. Mas eu não descanso à sombra de uma grande árvore de rica copa. Simplesmente me despeço. E parto em direção a um destino incerto.

Vivo na incertitude das horas. Sou pontual como os ponteiros das horas que nunca se atrasam. Caminho sempre no sentido horário. Vou reto pelo caminho certo. Se retorno deve ser por um bom motivo.

Já que a retidão em meus atos sempre tive como dogma de vida.

Hoje, dezembro caminhando adiante, quase estamos no meio desse mês. O derradeiro que fecha o ano. Conto com mais um ano de vida. A espera do ano seguinte. Que tem começo em janeiro. A espera do dia seguinte espero que mais um ano me contemple.

Estamos prestes a encerrar mais um ano. O natal se avizinha. Daquele menino que esperava presentes passei a ser o papai Noel dos meus queridos netinhos.

Esperar, aguardar, são palavras símiles. E eu continuo a esperar outros natais. Outras inaugurações de idades novas. Quantas mais seria presenteado? Que sejam muitos aniversários. Muitos anos mais que viverei. Desde que a saúde me faça presente. Já que não mais espero presentes. De recebedor passei a doador.

A espera do dia seguinte me faz pensar no amanhã. Noutros cumpleanos que hão de vir.

Em natais que sobrevirão.

Eu espero sempre. Mas não fico a espera constantemente. De vez em quando me rebelo. E parto antes da hora combinada.

Confesso-me sempre pontual. A espera me cansa. Conto as horas. Minutos se sucedem. E eu me canso de esperar.

A espera do dia seguinte faz parte intrínseca do meu eu. Vivo a espera de dias melhores. Se eles não chegam não me apoquento. A esperança faz parte de mim.

Hoje, nesse dia lindo que me acordou a mesma hora de sempre, espero que a chuva volte. Para amenizar o calor do sol. Para me refrescar a tarde numa piscina azul do clube que sempre vou lá pelas três da tarde.

 

Vivo a espera de um dia azul embora o cinza me faça pensar na chuva que vai cair.

A espera que a felicidade entre pelas minhas entranhas. Já que não tenho como me proteger da tristeza que de vez em quando me domina.

Sou assim. Refém de altos e baixos. Da bipolaridade que faz parte do meu eu.

Ora sou sol. Ora me acinzento.

Vivo esperando que o dia seguinte me traga bons alentos. Espero o assopro do vento. Não uma ventania que traga desalento e tragédias a nós. E sim um ventinho camarada. Que traga sorte a todas as gentes.

Estamos prestes a ver finar mais um ano. Que venha o próximo.

Sempre a espera do dia seguinte vou vivendo entre as palavras. Que elas continuem a enfeitar meus dias. Que sejam ricos em sois. Ou enegrecidos pela cinzentice da chuva que deve cair mais tarde.

A espera da esperança vou vivendo. Sonhando sempre. Até quando, não importa.

 

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