Quase uma vida

Como mesurar vida?

O sistema decimal desconheço.

Para uns uma eternidade. Pra outros bem pouco, pois deixam de viver precocemente.

Pra mim vida dá no mesmo que uma procura incessante pela felicidade. Já vivi o bastante para encontrá-la. Por vezes ela se esconde de mim. Às vezes a encontro em lugares mais improváveis. Na minha rocinha. Debaixo de uma árvore de rica copa. À beira daquele lago hoje de águas barrentas devido à chuva que cai. A olhar lá de cima da varanda do meu quarto de dormir de onde se descortina uma vista maravilhosa.

Quando digo quase uma vida me refiro aos muitos anos que passei junto dela.

Conto nos dedos mais de cinquenta. Uma eternidade.

Quando digo eternidade me refiro a um tempo maiúsculo. Somando-se a idade da minha musa e a minha anoto no meu caderninho cento e quarenta e cinco.

Quase uma vida estamos juntos.

Eu a conheci quando ela ainda era uma menina. Cheirando a cueiros e perfumada de jasmim.

Ela passava dos quinze anos. Eu três anos a mais.

Nosso primeiro encontro foi no rela do jardim. Ela pra lá e eu no sentido inverso.

Nossos olhares se entrecruzaram. Não digo ter sido amor à primeira vista, pois isso não passa de mais uma fantasia minha. O amor requer tempo para madurar. E apodrece se não cuidado carinhosamente.

E como ela ainda me parece a mesma menina de antão. De pele morena. Cabelos castanhos hoje mechados de um quase louro. Que se não tintos embranquece.

Quase uma vida passamos lado a lado.

É ela quem dorme ao meu lado.  Quem cuida dos meus caraminguados vencimentos. Ai de mim se não fosse ela. Seria eu um mero arremedo, uma pálida sombra do que seria de verdade.

Há três dias celebrei meus cumpleanos. No dia sete desse mês nascia há exatos setenta e quatro anos atrás.

Três anos nos separam. Eu e minha eterna namorada.  A mesma menina que encontrei no rela do jardim.

O que seria de mim sem a Rosa? Um jardim sem flores. Um mar sem ondas. Um oceano inteiro sem peixes.

Seria uma vida inteira desprovida de felicidade. Sem amor o que seria de mim.

No dia de hoje, onze de dezembro, minha eterna companheira celebra mais um ano de vida.

Uma vida inteira dedicada à família. Ao seu marido sonhador. Aos seus filhos e netos.

Mais uma vez indago. O que seria de mim sem a minha Rosemirian? Ou Rosa como ela é conhecida. Um homem sem rumo e sem prumo.

Considero-a como um esteio onde amarro a minha felicidade. Podem dizer que felicidade não se ata a amarras. Mas ela, a minha mulher, não apenas me serve de esteio bem como musa inspiradora de um romance ainda não começado. Pois nosso romance teve inicio há quase uma vida. Uma eternidade nos une. Que ela termine apenas no dia quando formos alijados dessa vida terrena.

Minha Rosa, ou Rosemirian, como a chamarem, eu a chamo de minha querida companheira de quase uma vida inteira.

Receba hoje e sempre meu melhor abraço de felicidade. Só me resta desejar-lhe um mundo inteiro de sorrisos enriquecedores. O que seria de mim sem a sua presença? Nada mais nada menos que uma pessoa infeliz.

Quase uma vida inteira enriquece-nos a convivência. Por vezes tumultuada como águas revoltas. Às vezes plácida com um mar em calmaria.

No dia de hoje não vou lhe dar presentes. E sim desejar a você uma vida recheada de felicidade ao meu lado e de todos que a amam como eu.

 

 

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