As nossas necessidades variam de caso a caso.
Pra muitos torna-se essencial viver cercado de luxo tendo a riqueza como pedra angular de sua existência. Pra outros simplesmente ter uma casinha humilde. Cercado de gente que compartilha a mesma ambição.
A maioria pode pensar que trabalhar sempre, de sol a sol, sem direito a descanso, pode ser a meta a ser alcançada.
Já pra poucos o trabalho deveras é importante, desde que seja dosado a conta gotas. Recheado de intervalos para o descanso.
Aprendi, com o passarinhar dos anos, depois de quase cinquenta anos de profissão. Que o importante é não se preocupar tanto com o dia seguinte. Viver o hoje sofregamente. Embora o passado não deve ser enterrado. Pois dele, aquelas pessoas que lhe deram a vida, elas são as grandes responsáveis por sua felicidade.
Eu não preciso mais de tanta coisa. Pra mim basta um computador a minha frente. Uma dose diuturna de inspiração. Uma pitadinha de atividade física. Saúde pra mim é essencial. Acordar cedo fundamental. Colecionar amigos e quiçá leitores dos meus escritos. Pra continuar vivendo por muitos e muitos anos mais,
Ambição desmedida não tenho mais. Já ganhei mais que sou merecedor. Tenho a família com que sempre sonhei. Tanto a de agora como a que me gerou. Se não tenho a tranquilidade que gostaria posso dizer que me sinto bem assim à mercê da minha intempestividade.
Se não tive a alegria de ter uma netinha os três que possuo já me enchem de alegria. Se não tenho mais meus pais por perto meus filhos me completam.
Não preciso de muita coisa para continuar pelos anos que me restam. Basta-me ter pernas que me levem a onde desejo. Braços fortes para dar suporte aos meus dedos nas minhas escrevinhanças diárias. E um cérebro pensante de onde emerge tanta inspiração que me consome.
Não careço muito mais que tudo isso. Contento-me com muito pouco. Um cadinho de sensibilidade que tanto me faz sofrer como me alegrar.
Só peço que Deus me permita viver sem ser um peso morto aos que amam. Que nunca precise ser preso a um leito de hospital. Sem ao menos poder manifestar o meu desejo de ir e vir. Olhando inerme o teto. De olhos abertos sem poder ver o clarume dos dias. Nem a cinzentice que me acordou neste quase findo agosto.
Não preciso de quase nada. Já tenho o suficiente.
Se puder pedir mais alguma coisa que seja em prol de outrem.
Pra mim basta o que conquistei.
São tantos livros editados. Eles somam mais de vinte.
São incontáveis crônicas escritas. Se pudesse contá-las elas todas totalizariam quase vinte mil.
Preciso sim. De continuar a escrever. De não parar de sonhar. De ter saúde o suficiente para não ficar à espera da morte sem manifestar o meu desejo de sobreviver um cadinho mais.
E, quando esse dia chegar, que me permitam não sofrer tanto. Que feche meus olhos durante o sono. Sonhando sempre. Pra sempre.
Não preciso mais do que isso. Podem pensar que é muito. Pra mim não. O suficiente.