Salve aqueles idos anos

Mas de nada adianta tentar salvaguardar, melhor escrito salvar, ou dizendo melhor, pegar carona não num caminhão estradeiro, indo mais longe, no passado, voltarmos a nossa infância perdida. Ah! Quem me dera…

Se fosse de minha escolha eu gostaria de fazer meu aniversário de cinco aninhos. Assoprar num sopro só, todas elazinhas apagando e vê-las acenderem-se de novo pois. Já naqueles velhos tempos existiam velas feitas de um jeito especial. Cujo fiapo de barbante. Uma vez pegando fogo logo a pequena chama volta a brilhar por cima do bolo num titetaquear instantâneo.

Mas, se não pudesse  ser feita a minha vontade de ser aos cinco anos, que tal aos sete? Quando eu, de merendeira amochilada às minhas costas, despedia-me de minha mãezinha. Se  ela ainda fosse viva faria aniversário no próximo sete de junho.

No entanto dos entre tantos, indo alguns aninhos mais longe, eu mais crescidinho, aos dez iria com minha primeira namoradinha à matinê assistir ao filme de Tarzan e sua mãe a macaca Chita.

Já aos quinze, quando iniciei mais um degrau de  uma escalda longa que me conduziu adonde estou. Em dezembro perto. No segundo semestre desse ano dois mil e vinte e três. Irei subir mais um degrau contando um a um até setenta e quatro. Bem produtivos anos e frutuosos. Embora não saiba  quantos degraus me restam. E como tem valido a pena ver estes anos todos desfilarem em minhas sacrossantas recordações. Umas melhores que doutras. Como todos que inda vivem podem dizer o  mesmo. Já que vivenciar bons momentos deveria ser a pedra maior. Mas, caminhando estrada afora e adentro, temos pedras pelo meio de nossos caminhos. Umas mais fáceis de serem desviadas como um rio se desvia dos morros e obstáculos e segue seu caminho sem ao menos olhar pra trás como eu tanto olho e nada vejo senão sombras do que fui e ainda pretendo sê-lo.

Sempre, desde menino criança, ao se aproximarem as férias de final de ano, contava horas, dias, minutos e segundos para fazer uma pequena viagem a um sitiozinho de umas tias avós aparentadas à minha mãezinha.

Era lá que nós, primos de Perdões, tomávamos banho numa baciona de latão esmaltado.  E desparecíamos numa água morna e espumante e quem nos lavava as orelhas era ou a tia Mariana ou sua irmã Leonor.

E como era bom chegar dezembro em seu começo. As velhas jabuticabeiras floresciam e das flores nasciam frutinhas maduras de uma doçura sem par.

Nós, primos em primeiro ou segundo que seja em terceiro grau, disputávamos as jabuticabas mais maduras e doces com maritacas e marimbondos que por vezes deixavam calombos com seus ferrões doloridos em nossos bracinhos magricelas ou nossos traseiros uma vez desvestidos de calças compridas.

E com que tristeza amargurada a gente se despedia da unida turminha assim que o período de férias bocejava anunciando o fim.

Agora, que acabei trocando a rocinha da Cachoeira por outra roça não mais em Perdões e sim do outro lado da represa do Funil.

Como me sinto uma criança adulta e já idosa. Ao ir aos finais de semana a minha casa beira lago do lado de cá da represa supra citada.

Traslado-me aos tempos idos. Embora não tenha mais os cinco ou sete anos. Já que troquei os sete por mais zeros a frente.

Não mais subo aos pés de jabuticaba por temer escorregar num galho mais alto. Nem ao menos tomo banho na mesma bacia de boca ancha cheia pelas beiradas de água morna rica em espuma. Nem ao menos passeio com minha namoradinha no rela do jardim pois ela e eu deixamos de ser meninos.

Mas, hoje, agora no começo de uma tarde cinzenta garoenta e fria.

Volto meus olhos aos bons tempos de antigamente. Dizendo e deixando escrito – salve salve aqueles idos anos.

 

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