Quaresma

Sexta feira santa. Sete de abril. Dia santificado e considerado de jejum e penitências.

Dizem as bocas não caladas que na quaresma as galinhas não põem ovos num ninho reconditamente escondido debaixo de um cacho de bananas.  Por madurar ou já bem no ponto de degustar.

No que acredito e deposito total confiança.

Se não cria agora passo a crer.

Sexta feira santificada.  Muitos fazem jejuar. E não ingerem comida ou bebida senão água da fonte ou da mina.

Alguém me perguntou se eu não creio em Deus Pai Todo Poderoso.

Descrente em minha crença num ser superior.

Eu a ele afirmei que vejo Deus nas plantas que nascem. No vento que assopra no outono. Nos cabelos revoltos daquela criança que não deseja crescer. Como eu. Nas lembranças que me acediam envoltas num passado do qual não desejo me desvencilhar.  No farfalhar das asas de um beija flor que esvoaça no entorno do velho ninho abandonado em busca de outros casais de beija flores. Na brisa que assopra depois de uma tempestade que recém finou. Ou, até mesmo no murmúrio do silêncio que agora, bem cedo, encontrei no meu refúgio beira lago, desta represa linda que acabou por engolir o rio que um dia já foi grande e agora se mostra cerceado em sua liberdade por barragens. Na intenção nada louvável de produzir energia a baixo custo. Conquanto existam outras formas de captação de energia neste país continente.

Entre elas cito a energia oriunda dos raios de sol e outras inerentes ao assopro do vento. Que teima em não calar sua boca ventosa e assoprar ondinhas e marolinhas das ondas plácidas dessa represa linda. Como a sua coirmã, chamada Camargos.

Aqui apeei em plena sexta feira santificada.  Junto ao meu amigo Marcelo.

Logo empreendemos uma curta caminhada em direção aonde ele, pela vez primeira viu o nascer do sol e o aconchegar da lua.

E chegamos, acompanhados de meus dois cãezinhos, Clo e Robson, a morada do velho Nicanor.

Lá fomos calorosamente recebidos pelo próprio. Ele estava em companhia de sua esposa Cida.

Gostaríamos de de lá trazer um frango para cozer no meu ainda não usado fogão a lenha. Um que jamais recebera achas de lenha em sua bocarra enorme.

Pena que meu vizinho Nicanor não tinha nenhures frango caipira nem ao menos uma dúzia de ovos a vender.

Mas, no entanto, nos entreatantos quantos, em nossa prosa amistosa, ele me levou a conhecer o quanto meu saudoso pai foi beneplácito com ele mesmo.

Como gerente da casa bancária cujo nome era o mesmo de nosso país, emprestava-lhe dinheiro a juros baixíssimos. E não se preocupava em receber a importância, pois ele sabia da lisura do meu amigo e vizinho de cerca. Tão próximo e ao mesmo tempo tão distante, pois fazia anos que nós não nos víamos.

Deixamos a casa singela do amigo Nicanor em direção adiante. Queria caminhar mais um cadinho.

Já o amigo do peito Marcelo, arfante de cansaço, contentou-se em olhar de frente o seu passado.

E fui eu sozinho, bem acompanhado do Clo e do Robson, passando pela fazenda da dona Nice, agora sofrendo pelo abandono. Entregue aos morcegos e aos carunchos.

Até dar de frente ao outro velho amigo o Geraldo da Nega.  Sempre eu adiante e Clo e Robson um passo atrás.

Encontrei-o ao abandono. Solitário em sua morada. Trocamos uma dezena de palavras.  Clo e Robson me olhavam do lado de fora com olhos de pura candura. Ao Clo ofereci água numa caneca esmaltada. Ele, educadamente fez que não com suas patinhas arqueadas.  Eu desisti de a ele oferecer água fresca e límpida como água de mina. Mas elezinho insistiu em dizer não.

Enfim chegamos a casa amarelazul. Cenário do meu romance Madest.

O meu amigo, arrendador de minhas terras, entendendo a minha comoção, ao me lembrar do meu saudoso progenitor, consolou-me com um amistoso abraço.

E eu aqui estou. Tentando me fazer entender com meu computador. Nesse cenário idílico.

O porquê de tantos porqueres.

Por que chamam a semana santa de quaresma. E por que muitas pessoas se abstêm de comer carne e preferem os peixes ou aqueloutro de preço salgado o bacalhau.

Quaresma se trata do período que assinalava o fim da semana santa.

Mas, pra mim é uma época não de fazer jejum ou tentar atenuar os nossos pecadilhos.

Quaresma sim. Trata-se de um tempo em que as galinhas se omitem de botar.

E nós não precisamos jejuar.

Cada um tem, por dentro, o conceito sobre quaresma o melhor que a ele convém.

 

 

 

 

 

 

 

 

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