A difícil arte de conviver

Um mais um nem sempre serão dois.

Assim como quatro vezes quatro. Nos tempos de mim menino. Por não me dar bem com a tal tabuada. Nem se fala em logaritmos e nem tampouco em cossenos e tangentes.

E quando o assunto era matemática euzinho saía pela tangente.

Números sempre me foram antipáticos. O mesmo não dizia das bem amadas letras.

Se miúdas ou minúsculas eu as queria tanto bem. E não fazia pouco caso se alguém, em desacordo comigo, corrigisse os meus senões.

Sempre tive uma convivência amistosa com as palavras. Tanto as escritas em minha língua pátria ou em outros idiomas entre eles cito o inglês, o espanhol, o alemão, o italiano, o francês e o roceirez- “uai, pronde nois vai memo? Eu trusse uma truxa de roupe má passada e incardida da boca da mina do cruiz credo. Isturia vo sumi na braquiaria. I quantas belezuras mais infeitam os vucabularios que nem bula de remédio infeitam as prateleiras de nosso invernáculo pura aí in pur acá”.

Mas, convenhamos. Assim como a vida nos prega peças amigos de verdade. Nos quais depositamos nossas mãos no fogo sem medo de sapecá-las eu me calo.

E não falo que não existam pessoas nas quais se deve confiar.

No entanto, pena. Aquelas em que confiava cegamente já não fazem parte mais desse mundo. E avoaram para outro mundo.  Se é que existe outra esfera que rodopia estrada afora. Em roda das cantigas de rodas. Que minha mãezinha querida cantava.

Ou cantarolava tentando embalar nosso sono.

Entre duzentenas de amigos ditos humanos a eles prefiro os animais.

Vocês sabem quem pode destronar os cães como sendo os melhores amigo que eles?

Se sabem me contem logo. Corram nas suas contagens pois eu posso desacreditar em seus números.

Já disse e repito que aos números prefiro o som mavioso das palavras bem grafadas.

Já convivi com cães.

Mesmo que ele façam estripulias. Como ontem a noite meus dois amiguinhos da roça- Clo e Robson. Uma vez que se viram soltos de seu canil. Com água fresca da mina e ração a vontade.

Eles dois aprontaram como duas crianças de férias na roça de suas tias avós.

Fazendo ambas embranquecerem os cabelos. Perderem a noção do que seja certo ou errado. Mas, elas, santas sem serem canonizadas.

Uma delas me disse, entre dentes banguelas e um sorriso a alegrar a mais triste noite que se tinha notícia.

“Perdoe meus netinhos. Eles são crianças sapecas. Se fizeram aquilo que vocês acham errado pra eles nada mais é do que errando é que se endireita”.

Já tive amigos entre cães. Foram centenas.

Já perdi amigos entre humanos. Não por me achar a última bolacha do pacote entre vários.

Os cães nunca me decepcionaram. Como o ocorrido, distintas vezes, entre gente que se dizia como a gente.

Se perdi amigos por falha minha. Confesso não saber que falta foi.

Se por acaso tenho poucos ou nenhures amigos não sei de quem é a culpa.

Por vezes a solidão me incomoda.  Mas, ouvir o murmúrio mouco do silêncio não me agride os ouvidos. Ao revés. Como o silêncio me soa muito bem.

Agora mesmo me encontro só. Num dos meus recantos prediletos. Ou escrevo na intimidade da minha oficina de trabalho. Pra onde chego sempre ao raiar dos dias. Ou aqui. Na minha casa beira lago. Na minha rocinha encantada. Perdida entre um monte de água e o verde de uma matinha num pastinho onde minhas éguas moram.

Quando para cá vim me fazia acompanhar de unzinho de meus parcos amigos.

Agora ele me deixou entregue a minha solidão.

Não sei a razão de sua partida antecipada. Já que o previsto seria que eu e ele fossemos embora no domingo.

A arte da convivência é por demais, dir-se-ia, impossível.

Não que eu me considere melhor ou menos ruim que os demais.

Agora, neste sábado de aleluia, aleluia à solidão!

Tenho de reaprender a viver com ela. Nesse mundão repleto de gente que vocifera e nada diz.

Já eu digo e não me contradigo.

E como é bom prosear com as teclas negras do meu computador. Elas não dizem nada quando escrevo. Apenas tentam corrigir os meus senões.

 

 

 

 

 

 

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