Sempre temi o desconhecido.
Já quando menino, de calças curtas e ideias alongadas, pois queria seguir adiante na minha estrada, ao passar as férias de final de ano na fazenda de meu tio Zito. Em companhia supinamente agradável de minhas primas de Varginha. Quando nos reuníamos no rabo morno do fogão a lenha, naqueles dias frios do mês de maio ou junho que se avizinham, a fim de ouvir estórias de assombração e de vampiros anemiados por tanta carência de sangue que não encontravam nos bancos onde se usa fazer transfusões de um ao outro, meu saudoso tio Zito, com aquela voz trovoenta, fazia com a gente uma aposta. Quem teria coragem de ir, naquela noite escura, andando até mais ao longe, chegando a tal cruz da Francelina. Um marco que assinalava onde a escrava fora enterrada. Ainda nos idos anos da escravidão. Uma mancha que inda hoje nos faz ruborizarmos todos só de pensar em tamanha maldade com nossos irmãos de pele escura. Que por infelicidade pura não nasceram. Como nós. Com a pele clarinha como algodão corado pelo brancume das nuvens que recém enfeitam este ceu desta manhã linda desta quinta feira antecessora da sexta feira santa.
E eu, menino jovenzinho gabola, querendo fazer bonito as priminhas de onde pousou o ET, alçava a minha mãozinha indicando que eu seria o candidato a ir ao desconhecido.
Ah! Se por um acaso de pés descalços elas soubessem qual o estado de minha cueca um riso de escárnio logo brotaria naqueles rostinhos lindos. E iriam todas elas a troçar de mimzinho.
Pena que de criança a gente nem pede passagem e o tempo malvado nos faz metamorfosearmos em novas idades.
Não se pode, infelizmente, ficarmos imunes a passagem dos anos. Eles passarinham como os passarinhos empreendem seus voos solos ao despencarem dos ninhos paternos.
E a gente cresce. Envelhece. Enfermidades imprevistas se aboletam na gente. E, embora a medicina evolua não conseguimos, nós, médicos, titulados doutores sem títulos que nos representem, pois deveriam ser chamados doutores aqueles vencedores de mestrados, doutorados e pós. Como minha norinha biscuit a gauchinha Vanessa experta menina moça entendedora dos benefícios que os derivados da canabis sativa fazem em nosso organismo depois de extensa e profícua pesquisa que elazinha está envolvida anos se sucedem desde muitos anos.
Uma vez guinado a idoso, já que a fase adúltera. Não pensem mal de mim por ter escrito adúltera não adulto.
Sempre matutei com meus neurônios irrequietos alguns porquês de tantos porqueres.
Por que a terra é redonda e não quadrada? Já fiz esta pergunta nos bancos escolares.
Por que a gente, ao invés de envelhecermos não se volta atrás? Já fiz esta mesma pergunta a um professor de inglês e ele me respondeu: “I don´t know”. Nem eu.
Sempre temi o desconhecido. E, de quando em sempre ia andando a um lugar pra mim idílico e desconhecia-me o paradeiro de mim mesmo.
Temia a solidão. E quantas vezes fiquei isolado não numa ilha deserta e sim dentro de mim próprio.
Tinha receio de viver solitário. Mas, quando fiz companhia a minha pessoinha, na varanda de uma casa beira lago, ouvindo o murmúrio mouco do silêncio acabei me acostumando a ficar só.
Algumas solitárias vezes, quando os revezes me atazanaram, eu não me continha dentro de mim mesmo e me soltei de dentro do meu casulo qual uma feia crisálida cede lugar a uma linda borboleta azul.
Solitárias vezes pensava em me fazer desacompanhar de pessoas as quais nada me acrescentavam. E não me arrependi por ter feito exatamente isso e não aqueloutro.
Por vezes achava-me a última bolacha do pacote. Agora aprendi que o mesmo pacote está pelas bocas de outras pessoas muito mais importantes que euzinho sozinho.
Achava-me, nesse interregno de minha existência, que seja profícua ou não, que não poderia, jamais, viver em companhia de mim mesmo. E que ter ao meu lado uma parceira seria fundamental.
Agora, nesta aurora da minha vida, perdida a inocência não mais encontrada, acho-me quase ao final da estrada. Uma via de mão dupla. Que não permite erros ou pontos finais e sim reticências….
De ontem pra hoje, de agora cedo, até chegar outro domingo, encontro-me só. Só eu e meus dois computadores. Eles nada exigem de mim sozinho. Basta a eles dois que a inspiração me cavouque sempre. Que ela não me falte. E, se por acaso elazinha vier me faltar. Por favor peço. Suplico-lhes de joelhos postos ao chão duro de cimento. Quem a encontrar ofereço, como recompensa, mais um texto. Uma crônica. Um romance.
Não pensava ser possível viver feliz ao lado de nenhures. Pensava que eu me bastava. Agora sei que sim. É possível…