“Vou pro mato! “

Nos tempos idos era de costume.

Principalmente quando se tratava de gente da roça. Como nas casas de pau a pique não havia vasos sanitários. Somente anos depois começaram a fazer uma casinha de adobe do lado de fora da casa principal. Já que redes de esgoto ainda não existiam em zonas rurais. E se usa construir fossas sépticas ou de outros tipos. E não confundam estas fossas com as tais expressões indicativas de que algo não vai bem com as nossas pessoas. Pois muitos tidos depressivos sobre eles pode-se dizer que estão na fossa. Num buraco escuro. Sem ao menos o lume de noctívagos vagalumes. A desejarem que a morte lhes abrevie aquilo que têm de melhor chamada vida. Ainda bem que a tal fossa nem sempre dura mais que a florada dos ipês. E se continua indefinidamente carece de procurar ajuda de profissionais de saúde especializados. Como psiquiatras, seus congêneres e aparentados. E tome paroxetina e outros fármacos que costumam fazer efeito em tempos variáveis. Daí não desista nunca de ser tratado para que esta doença dos nervos fracos se resolva antes do término deste carnaval que quase vai rebolar na próxima semana. Embora em outras cidades já se podem observar gente alegre nas avenidas. Fantasiadas de Pierrôs, Colombinas e mil palhaços no salão. Embora nesse país governado por um governo que não me convence os verdadeiros palhaços somos nós. Que aceitamos goela abaixo todos os tipos de toma lá devolve cá com juros e correção monetária. E nós mesmos falta-nos vergonha na lata. Por nos sujeitarmos impassíveis e sem protestar às falcatruas que aqui pululam como os cangurus marsupiais. Animais típicos da Oceania. E nada fazemos para mudar o status quo. Mas, como todo povo tem o desgoverno que faz jus. E nós não fugimos a regra. Serão mais quatro anos à espera de que as coisas e loisas irão ter um final feliz. E logo se desencantam com meu dito.

Estamos prestes a ter de enfrentar mais de quatro dias de folia. Pra mim seria o ideal ver folias de reis com seus marungos e pessoas puras de coração que em verdade creem nestas festas ingênuas. Creio que nascidas em nosso estado montanhoso. Minas Gerais pode não ter mar. Pra quê? Se temos um marzão de água doce aqui pertinho. São três represas em seu limite máximo graças à chuva intensa que tem caído por estas bandas sem muitos bandidos.

E aqueles carnavais passados estes sim promovem saudades.

Ai que nostalgia sinto da tal máscara negra. Do vou beijar-te agora pois hoje é carnaval e que seu pai não me leve a mal. E do Pierrô deveras apaixonado pela pudica Colombina que nunca o deixou relar a mão no seu traseiro empinado. Não era prótese de silicone aplicada no glúteo e sim bunda de verdade. E daquela marchinha não coisa de um batalhão de soldados comandados por seu general da banda. E por falar em banda, ou fanfarra, me faz recordar da fanfarra do velho Gammon onde eu tocava flautinha doce. Naquele uniformezinho todo branquinho. Como um bonezinho da mesma cor na minha cabeçona ainda coberta de cabelos castanhos. Hoje eles se perderam no ralo do chuveiro.

Esta expressão “vou pro mato” não enseja. Ao meu ver. Ir fazer cocô por detrás da bananeira que já deu ou não cacho. E, por falta de papel adequado ter de usar um sabugo de milho sem os seus grãos. Que acabaram indo pro bucho das vacas. Ou outro artifício de limpar o anus, melhor que citar sua sinonímia c u. Aquela folha de uma planta(urtiga) que faz coçar como os carrapatinhos micuins. Eu sou alérgico a eles. E como me esbaldo retirá-los a hora do banho na unha. E estourá-los vivinhos e vê-los pedir clemência. Antes de transformar aqueles carrapatinhos incomodativos numa mancha vermelha no meio das minhas unhas.

A outra dita “vou pro mato” me foi confidenciada aos ouvidos por um compadre da roça. De nome certo Benedito. Mas costumavam chamá-lo de Bem Dito. Pois cada palavra que saía de sua bocona enorme era cada impropério que não prestava pra nada.

E como o tal Bem Dito era fofoqueiro. Falava por todos os seus artelhos. Dizem até que seu joelho gasto era mais falante que a dona Maritaca Avoante. A qual, assim que as jabuticabas ameaçavam pretejar ela subia na jabuticabeira antes dos marimbondos e abelhas abelhudas. E não sobrava uma só frutinha doce para adocicar a minha boca pequena.

Foi num carnaval que passou eu acabei passando por ali. Era véspera da festa de Momo. Hoje quase não se fala mais no tal gorducho e pançudo. Parece que ele fez bariátrica e perdeu mais de cinquenta quilos.

Encontrei o velho Benedito. Ao final da tarde de uma sexta feira de carnaval na sua rotina perdulária. E como ele era pão duro. Não metia a mão no bolso com medo de escorpião.

Assentado a um banquinho tosco defronte a sua porteira. Que sempre ficava fechada com receio de as visitas entrarem e cerrarem a sua boia.

Com ele troquei um dedal de prosa ruim.

“Seu Benedito? Onde vai passar o carnaval? Numa praia qualquer? Ou na praia de areias brancas e fininhas do Rio Grande”?

E ele me respondeu mal educadamente: “eu? Quer mesmo saber? Vou pro mato.”

Tomara que seja um mato com muitos cachorros bravos.

 

 

Deixe uma resposta